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Prefeitura anula leilão de área verde na orla da Barra, mas abre nova licitação para vender encosta

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Cancelamento de leilão de área verde na orla da Barra tem origem em interesses de grupo de investidores
Anulação do certame seguida pela abertura de nova licitação teria sido saída encontrada pela prefeitura para favorecer fundo ligado à construtora Cosbat e ao Banco Master que perdeu a polêmica disputa pela encosta
Foto: Danilo Puridade/Metropress
O cancelamento do leilão de uma área verde na encosta do Morro Ipiranga, seguido pela abertura de uma nova licitação para vender o mesmo terreno, situado no trecho da orla da Barra entre o Cristo e o Clube Espanhol, tem como pano de fundo os interesses de investidores que ficaram em segundo lugar na disputa realizada em 4 de fevereiro deste ano, vencida pela Epic Serviços e Locações por R$ 16,85 milhões. Trata-se da Pharos 71 Empreendimento Imobiliário, empresa ligada ao Blue Bluebay Realty SA, fundo de investimentos que tem entre os sócios o dono da construtora Cosbat, Luiz Fernando Machado Costa Filho, e o Banco Master.
Causa e efeito
De acordo com informações disponibilizadas pela Receita Federal, a Pharos 71 foi criada em maio do ano passado com capital social de apenas R$ 5 mil. Entretanto, ofereceu lance de R$ 16,75 milhões para tentar arrematar a área verde. Como o valor foi R$ 100 mil a menos do que o proposto pela Epic, a empresa acabou derrotada no duelo pela posse da encosta. "A solução encontrada para atender os interesses da Pharos 71 foi anular o leilão e abrir uma nova rodada. A princípio, o terreno já estava amarrado com o grupo formado pela Cosbat e o Banco Master. Mas a entrada da Epic no jogo não estava no radar. Alguém comeu mosca, e eles perderam a disputa", revelou uma fonte bem-posicionada do mercado imobiliário que teve acesso às negociações envolvendo a encosta da Barra.
Laços de afinidade
Ainda conforme o cadastro de pessoas jurídicas da Receita, além de Luiz Fernando Costa Filho, a Pharos 71 pertence à Zermatt Empreendimentos e Participações, outra empresa fundada pelo dono da Cosbat também com capital social de R$ 5 mil e o mesmo endereço: a sala 901 do edifício Central Pinheiro, localizado na Avenida Anita Garibaldi, número 1211. Por sua vez, a ligação da Zermatt com o fundo Bluebay Realty é provada por meio do endereço eletrônico fornecido pela empresa ao Fisco. No caso, o email "relacionamento@bluebaysa.com.br".
Recordar é viver
A Cosbat ficou conhecida nacionalmente pela polêmica envolvendo a construção do La Vue, empreendimento de luxo que seria erguido na Ladeira da Barra, mas foi embargado pela cúpula do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em meio à descoberta de pressões exercidas pelo então ministro-chefe da Secretaria de Governo na gestão de Michel Temer, Geddel Vieira Lima, sobre o ministro da Cultura à época, Marcelo Calero, para que autorizasse a construção do megacondomínio. O caso levou Calero a pedir demissão do cargo em maio de 2016 e resultou ainda na saída de Geddel da Esplanada dos Ministérios.
Galinha gorda
Já o Banco Master fez fortuna com contratos de empréstimos consignados para servidores públicos de diversos estados do país, incluindo os do governo da Bahia e da prefeitura de Salvador. O Master foi a instituição financeira que herdou o espólio da antiga Cesta do Povo, a partir do qual criou o cartão Credcesta.
Nariz torcido
Consultadas pela coluna, fontes que atuam no segmento imobiliário baiano viram com desconfiança o argumento usado pelo prefeito Bruno Reis (União Brasil) para justificar o cancelamento do primeiro leilão e a abertura do segundo. Basicamente, de que um defeito no sistema usado para receber os lances em tempo real apresentou falhas e impediu que propostas de maior soma fossem apresentadas pelos interessados em arrematar a área.
Fio do novelo
"Primeiro, a rede Licitanet, no qual a prefeitura realizou o leilão, é uma plataforma virtual extremamente eficaz, moderna e segura, muito utilizada pelo Poder Público e sem histórico de panes desse tipo. Segundo, todo o mercado sabia há tempos que a venda daquele terreno estava assegurada para esse grupo que crou a empresa Pharos 71. Tanto que o prefeito e Giovanna Victer (secretária municipal da Fazenda) jamais divulgaram o nome do arrematante. Vocês da Metropole é que descobriram e tornaram público", destacou um empresário peso-pesado do setor.
Briga de foice
Como foi revelado pela Metropolítica no último sábado (15), a prefeitura decidiu anular o leilão da área verde mesmo após a empresa que venceu a disputa ter pago a primeira parcela da transação, no valor de R$ 1,685 milhão, o equivalente a 10% do lance vencedor. "Acontece que a Epic, pelo que soubemos, não está disposta a abrir mão do terreno e vai até o fim para fazer valer seu direito de compra. A briga vai ser boa. Pode apostar", garantiu um investidor do mercado de empreendimentos de luxo com livre trânsito aos altos escalões da política local.
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