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Aliados de Elmar dizem que Lira retirou apoio a deputado após ser avisado sobre operação da PF contra desvios no Dnocs
Metropolítica
Por Jairo Costa Júnior
Notícias exclusivas sobre política e os bastidores do poder
Aliados de Elmar dizem que Lira retirou apoio a deputado após ser avisado sobre operação da PF contra desvios no Dnocs
Parlamentar baiano era o preferido do ex-presidente da Câmara para comandar a Casa, mas foi trocado por Hugo Motta, eleito no sábado
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
A descoberta de que a Polícia Federal (PF) estava prestes a desencadear uma operação contra desvios de emendas parlamentares está por trás da retirada do apoio do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil), afirmam integrantes da tropa de choque do parlamentar baiano no Congresso Nacional. A informação foi confirmada à Metropolítica logo após a vitória de Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa pelo comando da Casa, realizada no último sábado (01). Até setembro, Elmar era tido como o favorito de Lira para sucedê-lo. No entanto, o alagoano mudou repentinamente de rota e anunciou a escolha de Motta como seu candidato à presidência da Câmara em 29 de outubro, menos de um mês e meio antes da primeira fase da Operação Overclean, deflagrada pela PF em 10 de dezembro para desbaratar um esquema de corrupção envolvendo repasses de emendas para prefeituras da Bahia e de pelo menos outros quatro estado, por meio do Departamento nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs).
Ligação de pontos
"Até pela própria natureza do cargo, presidentes da Câmara dos Deputados estão entre as pessoas melhor informadas do país. E Lira, em especial, sempre manteve fontes privilegiadas nas mais variadas áreas da administração pública. Às vésperas da eleição na Casa, aliados muito próximos a Lira disseram, em tom de confidência, que ele pode ter decidido rifar Elmar após saber que havia uma operação em curso com foco em desvios de emendas na Bahia. Mesmo que Elmar não tenha sido citado no inquérito da PF, Lira sabia que o caso poderia prejudicar seus planos de fazer o substituto. Isso porque não é segredo para ninguém que Elmar possui passe-livre no Dnocs e na Codevasf, dois grandes destinatários de recursos via emendas", afirmou um parlamentar bastante ligado ao deputado baiano.
Conta de somar
Deputados ouvidos pela coluna apontam outros indícios de que Arthur Lira desistiu do apoio a Elmar Nascimento por temer o reflexo de investigações sobre desvios de emendas. No caso, a súbita guinada em direção a Hugo Motta e a forma como ela foi feita. "Ao longo de quase um ano, estava claro para todos que Elmar era o candidato preferido de Lira. Na verdade, ambos sempre tiveram uma relação sólida de amizade e confiança que ultrapassa a política. De uma hora pra outra, ele dá um cavalo de pau e escolhe outro! A justificativa de que Motta tinha maior capacidade de aglutinar apoio não cola. Elmar era um nome bem mais forte e influente na Câmara. Agora, juntamos a peça que faltava para entender o que fez Lira mudar", destaca um membro da ala pró-Elmar na bancada baiana em Brasília.
Danos colaterais
Independente da ligação entre a Overclean e a retirada de apoio por parte de Arthur Lira, é fato que a operação colocou a lupa da PF sobre as emendas destinadas por ele. Sobretudo, porque foram feitos gordos repasses de verbas federais para Campo Formoso, principal reduto político do deputado. Sem falar de que, entre os alvos do cerco na cidade, estava um primo do parlamentar, o vereador Francisco Nascimento (União Brasil), que se tornou conhecido nacionalmente por ter atirado pela janela de casa uma mala com R$ 220 mil pouco antes de ser preso. Ao mesmo tempo, parece ter esvaziado também parte da influência de Elmar Nascimento no Congresso. Tanto que ficou entre os menos votados na lista de eleitos para compor a Mesa Diretora da Câmara pelos próximos dois anos. Novo segundo vice-presidente da Casa, Elmar recebeu 427 votos, mesma quantidade de Carlos Veras (PT-PE), que conquistou a primeira secretaria, e 17 a menos que Hugo Motta, cuja candidatura enfrentou dois adversários - Marcel van Hattem (Novo-RS) e Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) -, enquanto Elmar entrou sozinho no páreo.
Caminhos cruzados
As informações sobre os bastidores em torno da sucessão na Câmara têm eco com as suspeitas lançadas pelo presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), Adolfo Menezes (PSD), durante entrevista concedida quinta-feira passada (30) ao apresentador Mário Kertész, da Rádio Metropole. Na ocasião, Adolfo denunciou a utilização de emendas parlamentares para manter prefeitos aliados no poder na sucessão de 2024 e comprar apoio político no interior baiano. Ainda que não tenha citado nomes, o presidente da Alba usou como exemplo a eleição em Campo Formoso, vencida novamente por Elmo Nascimento (União Brasil), irmão de Elmar, de quem é inimigo. Com um nível de franqueza raramente visto nos políticos do estado, Adolfo expôs a existência de um balcão de vendas de emendas destinadas à saúde pública.
Para recordar
"Se as emendas chegassem ao seu destino da forma que está no papel, ótimo. O problema é que colocam a emenda para uma estrada e não se faz a estrada ou faz superfaturada. Mas a briga maior é para colocar o dinheiro na saúde. Por que na saúde? Não porque estão preocupados em salvar vidas. É porque na saúde tem gente vendendo emenda. Essa é a escalada a que chegamos. Foram R$ 196 bilhões em seis anos, que foram mandados aí pelo Brasil sem saber quem mandou e para onde foi", disparou Adolfo Menezes.
Rota de colisão
O clima pesou no Diretório Estadual do PP, a reboque da rebelião de vereadores do partido interessados em cargos no primeiro e segundo escalões da prefeitura de Salvador e das ameaças feitas indiretamente pelo secretário municipal de governo e presidente do partido na capital, Cacá Leão. Na segunda-feira (03), durante a reabertura dos trabalhos na Câmara Municipal, Cacá Leão sinalizou disposição para dialogar com os descontentes do PP, mas deixou claro que quem contrariar a aliança da legenda com a base do prefeito Bruno Reis (União Brasil) terá que arcar com as consequências previstas na legislação eleitoral. Entretanto, a postura desagradou o andar de cima da legenda, que recomendou cautela a Cacá. Especialmente, porque o partido caminha para retornar de modo oficial ao arco de alianças do governo do estado.
Roda presa
A queda de braço entre o PSDB e o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil) pelo controle da Secretaria Municipal de Educação (Smed) paralisou de vez as negociações em torno da dança de cadeiras em pastas estratégicas da gestão de Bruno Reis. Os tucanos consideram a Smed questão de honra e até o momento resistem à oferta feita pelo prefeito. A saber: as secretarias de Gestão (Semge) e da Saúde (SMS). Em contrapartida, Neto pressiona Bruno Reis a manter Thiago Dantas à frente da Educação. Com isso, o destino da vice-prefeita, Ana Paula Matos (PDT), dentro do Palácio Thomé de Souza e os futuros ocupantes das secretarias de Mobilidade (Semob) e da Cultura e Turismo (Secult) seguem sem definição.
De saco cheio
A interlocutores próximos, Bruno Reis não faz questão de esconder o aborrecimento com a sanha do Republicanos. Nos últimos dias, ele vem sendo apertado insistentemente pelos líderes do partido para que entregue a Secretaria de Obras Públicas de porteira fechada à legenda. Ou seja, com direito a escolher todos os postos de destaque no órgão. Algo que o prefeito já avisou que não vai rolar.
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