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Alvos da Operação Overclean na Bahia montaram esquema para destruir provas de desvio bilionário no Dnocs

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Por Jairo Costa Júnior

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Alvos da Operação Overclean na Bahia montaram esquema para destruir provas de desvio bilionário no Dnocs

Em inquérito remetido à Justiça Federal, PF detalha o conteúdo de conversas interceptadas que revelam ação sistemática para eliminar documentos e dados digitais; no total, 17 investigados foram presos na terça-feira

Alvos da Operação Overclean na Bahia montaram esquema para destruir provas de desvio bilionário no Dnocs

Foto: Divulgação/PF

Por: Jairo Costa Jr. no dia 11 de dezembro de 2024 às 19:05

Atualizado: no dia 11 de dezembro de 2024 às 19:23

Diálogos interceptados pela Polícia Federal (PF) no último dia 7 mostram que alvos da Operação Overclean agiram continuamente para destruir provas da existência de um esquema de desvios de emendas parlamentares por meio de contratos firmados com o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) com prefeituras da Bahia e de pelo menos outros quatro estados: Tocantins, Goiás, Amapá e Rio de Janeiro. "As conversas revelaram uma ação coordenada e sistemática de destruição de provas, que incluía a utilização simultânea de três máquinas trituradoras operando continuamente. Os investigados receberam ordens diretas de Alex Rezende Parente, líder identificado da organização, para eliminar diversos tipos de documentos, incluindo carimbos de outras empresas, cotações impressas e propostas que pudessem evidenciar as fraudes", destacou o juiz Fábio Moreira Ramiro, da 2ª Vara Federal em Salvador", ao justificar a necessidade de prisão preventiva de 17 suspeitos de participar do esquema. Além de Parente, dono de uma das construtoras investigadas pela Overclean, foram presos pela PF na terça-feira (10) o empresário Marcos Moura e mais 15 pessoas. 

Batom na manga
No inquérito que fundamentou os mandatos de prisão e de busca e apreensão, os investigadores do esquema disseram que o uso contínuo das três máquinas trituradoras demonstra o tamanho do esforço para apagar rastros de atividades ilícitas. "Há uma clara orientação do líder para 'limpar' setores, eliminar documentos e apagar dados digitais. Alex Rezende é mencionado diretamente como mandante das ações, reforçando sua posição de liderança dentro do grupo
criminoso. A intensidade e urgência da destruição de provas revelam que os investigados estão cientes do potencial probatório dos materiais eliminados", assinalou a PF no relatório apresentado à Justiça Federal da Bahia. 

Passa a borracha! 
Ainda de acordo com a PF, a destruição de provas não ficou restrita aos documentos físicos. Os diálogos interceptados, reforçaram os investigadores, evidenciaram uma preocupação específica com dados digitais e incluíram orientações para apagar mensagens no WhatsApp de modo rotineiro, substituição de aparelhos celulares, troca de computadores e transferência de arquivos virtuais para locais mais seguros. "Os investigados demonstraram especial cautela com propostas enviadas a diretores e qualquer documento que pudesse estabelecer vínculos entre as empresas envolvidas. A consciência da ilicitude ficou evidenciada nas conversas, com referências explícitas ao risco de investigações e até mesmo menções à Operação Lava Jato como exemplo a ser evitado. O planejamento incluía a realização da "limpeza" durante o final de semana", acrescentou o juiz federal em sua decisão. 

Dupla dinâmica
Dois alvos presos pela Overclean na terça foram apontados como responsáveis diretos pela destruição de provas. Um deles é o empresário Geraldo Guedes, tido pelos investigadores como braço-direito de Alex Parente no esquema. Cabia a Guedes a contabilidade das transações e as negociações com agentes públicos relativas a contratos firmados por prefeituras da Bahia com outra empresa sob a mira da operação, a Larclean Saúde Ambiental, que atua no segmento de combate a pragas urbanas. O outro é Iuri Bezerra, cujo papel no esquema ainda não foi descoberto pela PF, embora tenha sido flagrado nas interceptações telefônicas combinando a eliminação de documentos e dados digitais.

Fio da meada
Em 3 de abril, a Metropolítica noticiou a assinatura de um contrato de R$ 7,6 milhões entre a Larclean e a Secretaria de Educação de Salvador (Smed) para erradicação de pombos e morcegos em escolas da rede municipal de ensino. À época, chamou a atenção o alto valor do serviço, conquistado através de licitação que, segundo a PF, foi direcionada para favorecer a empresa de Alex Parente. Os tentáculos do esquema na secretaria derrubaram o diretor-geral da pasta, Flávio Pimenta, exonerado pelo prefeito Bruno Reis (União Brasil) nesta quarta-feira (11), um dia após ser preso pela Overclean.

Recibo passado
As interceptações feitas com autorização judicial corroboram as suspeitas de fraudes nos contratos entre a Larclean e a Smed. "O tom do diálogo sugere uma negociação clara e objetiva sobre a propina, embora os detalhes exatos da transação, como o valor e o local da entrega, não sejam especificados. A conversa reforça a ideia de que o pagamento está sendo feito para garantir o favorecimento de Alex Parente no processo licitatório, evidenciando a prática de corrupção e superfaturamento de serviços", destacou a PF no inquérito remetido à Justiça Federal.

Torta de climão
Em recente encontro com líderes do PCdoB, parte da nova rodada de tratativas iniciadas pelo Palácio de Ondina com partidos da base aliada, o prefeito reeleito de Várzea da Roça, Danillo Sales Rios, mais conhecido como Danillo Delicinha, deixou o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e os caciques da própria sigla em uma baita saia-justa. Logo no início da reunião, Rios alegou que estava de viagem marcada para Brasília e pediu para falar primeiro. Após elogiar a própria gestão, criticou em alto e bom som a "esquerda" por ter abandonado o vice-governador Geraldo Jr. (MDB) na disputa pela prefeitura da capital. "Eu falo, não deixo para trás. A esquerda foi muito fraca com o senhor (Geraldo Jr.) e muito fraca em relação à campanha de prefeito em Salvador. Na hora de precisar de Geraldinho para ser vice de Jerônimo eram só risadas, e depois deram as costas para ele. Vocês deveriam ter primeiramente gratidão", disparou, em meio ao mal-estar gerado pela lavagem de roupa suja.

Entra e sai
Ainda sobre o PCdoB, integrantes da articulação política do governo do estado garantem que, durante o encontro, os líderes da legenda e Jerônimo acertaram a troca de comando na Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre). A partir de janeiro, o chefe da pasta, Davidson Magalhães, deixará a Setre para assumir um cargo do governo federal em Brasília. Para seu lugar, será nomeado o vereador reeleito Augusto Vasconcelos. Com a movimentação, o vereador Hélio Ferreira, que não conseguiu renovar o mandato em outubro, assumirá o lugar de Vasconcelos na Câmara Municipal de Salvador.

Tiro ao alvo
O Conselho Administrativo de Direito Econômico (Cade) abriu esta semana uma investigação contra a Texaco, braço da gigante do petróleo Chevron que, no Brasil, atua em sociedade com o Grupo Ultra (leia-se Postos Ipiranga). A petrolífera responde por descumprir o contrato de exclusividade que mantinha com uma distribuidora regional da Bahia e Sergipe, a MLub. Segundo a denúncia, a multinacional vendia “por fora” carretas carregadas com seus lubrificantes para outros distribuidores nos dois estados. O que teria causado prejuízos milionários à MLub.

Recordar é viver.
A Texaco deixou o país em 2017, quando já respondia na Justiça pelos mesmos motivos que levaram o Cade a investigá-la. Segundo noticiou a coluna em 25 de novembro, a MLub trava uma briga de Davi contra Golias por uma indenização de R$ 60 milhões. Há dois anos e meio, porém, a ação hiberna nas gavetas do Superior Tribunal de Justiça (STJ).