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Festejos de Reis são retrato de esvaziamento das festas populares em Salvador

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Festejos de Reis são retrato de esvaziamento das festas populares em Salvador

Em Salvador, o auge mais recente foi nos anos 1990, por intermédio de uma figura conhecida: José de Souza Pinto, conhecido como padre Pinto

Festejos de Reis são retrato de esvaziamento das festas populares em Salvador

Foto: Divulgação/Arquidiocese de Salvador

Por: Luanda Costa no dia 09 de janeiro de 2025 às 07:59

Atualizado: no dia 09 de janeiro de 2025 às 09:34

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 9 de janeiro de 2025

Católico ou não, todo baiano já sabe: o calendário marcou 6 de janeiro, é dia de desmontar a árvore de Natal. Sabe, mas nem sempre segue. E, se essa tradição, simples, individual e no conforto de casa, já vem enfraquecendo, as outras então se esvaziam cada vez mais.

O 6 de janeiro - dia em que, segundo a tradição católica, os três reis magos visitaram Jesus - já foi feriado nacional e festejado com um Reisado digno de incenso, mirra e ouro. Em Salvador, o auge mais recente foi nos anos 1990, por intermédio de uma figura conhecida: José de Souza Pinto, conhecido como padre Pinto.

Legado afastado

Foi ele que criou o Terno da Anunciação e ajudou a rejuvenescer as celebrações de Reis. Tinha desfile dos Ternos de Reis pela Lapinha, fiéis se apresentando com música diante de presépios, barraquinhas de comerciantes e devotos lotando as ruas.

Mas, em 2006, o padre acabou sendo afastado da paróquia e de suas atividades após uma série de episódios que chocaram a comunidade católica. Ele foi visto em boates e quis até cobrar cachê para ser entevistado. Os escândalos ganharam força com a repercussão nacional de uma reportagem que o mostrava vestido de Oxum em plena praça. Não era a primeira vez que o religioso encarnava o sincretismo, mas a situação já estava insustentável. Ele foi afastado, amparado pela igreja e morreu em 2019, aos 72 anos, o religioso morreu na Paróquia São Caetano da Divina Providência.

Tradição às traças

Como toda tradição apagada dos calendários, a celebração de Reis hoje sobrevive apenas pela devoção dos fiéis e esforço das paróquias. Para o jornalista e pesquisador Nelson Cadena, são vários os motivos para o esvaziamento desta festa. “Quem vai às ruas no Terno de Reis são pessoas com idade entre 50 e 70 anos. Os jovens não têm o menor interesse pelo momento e os adultos não têm a capacidade de os estimular em prol da sua continuidade”, comenta.

Mas não é só a celebração de Reis que vem enfraquecendo. Santa Luzia, São Lázaro, Nossa Senhora da Boa Viagem e tantas outras também. A procissão de Bom Jesus dos Navegantes, no 1º de Janeiro, por exemplo, perdeu força nos últimos 30 anos por conta da concorrência dos shows na noite de Réveillon. “O evento ficou praticamente restrito à população de Itapagipe, que ainda preserva a tradição”, analisa Nelson Cadena.

Sincretismo que fortalece

Em compensação, ele acredita que outras celebrações estão ganhando reconhecimento impulsionadas pelo sincretismo, já reverenciado por Padre Pinto nos anos 1990 e perdido com a ausência dele. “A Festa Santa Bárbara se torna mais importante a cada ano e mais representativa para os baianos pelo fato de ter se tornado uma festa ecumênica. Temos também o Dia de Iemanjá, que ganha mais participação popular e dos visitantes”, pontua.