Quanto custa um deputado: Mordomias e despesas dos 63 parlamentares da Alba somaram mais de R$ 30 milhões

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 12 de dezembro de 2024

O cidadão, mesmo desavisado ou que não manja muito bem dos paranauês da política, sabe que sai do bolso dele a conta pelas mordomias e despesas de toda sorte que um deputado estadual tem direito. Talvez alguns desconheçam a lista da gastança, então, a gente dá essa força: aluguel de veículo de luxo, hospedagem, passagens de avião, internet, TV por assinatura, celular, locação de escritório político fora da capital, divulgação pessoal e até táxi aéreo, além de consultorias, assessorias e trabalhos técnicos. Mas certamente poucos têm noção do tamanho da fatura.

Levantamento feito pela coluna Metropolítica e publicado na segunda-feira (9) pelo portal Metro1 revelou que os 63 parlamentares da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) gastaram, de janeiro para cá, nada menos que R$ 31,5 milhões com a chamada verba indenizatória. Esse é o nome oficial da montanha de dinheiro público que banca as despesas mensais contraídas pelos deputados para,  em tese, custear atividades relativas ao exercício do mandato.

Em média, o montante corresponde a meio milhão de reais para cada deputado desde o início de 2024. Nunca é demais lembrar que a soma não contempla os salários dos deputados, atualmente fixados em R$ 33 mil, a remuneração dos mais de dez assessores de cargos comissionados lotados no gabinete de cada parlamentar e gastos com combustíveis, entre outros benefícios inerentes à função. 

No topo da montanha

No ranking dos grandes consumidores de verbas indenizatórias da Alba, o deputado Felipe Duarte (PP) ocupa o primeiro lugar, com gastos totais de aproximadamente R$ 545 mil, seguido de perto por Marcelinho Veiga (União Brasil), com R$ 539 mil. Seis parlamentares aparecem empatados na terceira colocação, com despesas de R$ 537 mil: Soane Galvão (PSB), Diego Castro (PL), Luciano Araújo (Solidariedade), Eures Ribeiro (PSD), Leandro de Jesus (PL) e Angelo Coronel Filho (PSD). 

Novatos disparados

Logo abaixo, vem Alex da Piatã (PSD), cujas despesas somaram R$ 536 mil. Outros três deputados estão embolados na quinta posição, com R$ 530 mil. São eles, Bobô (PCdoB), Emerson Penalva (PDT) e Marcinho Oliveira (União Brasil). Da lista de campeões em gastos, apenas Bobô e Eures são veteranos. Os demais são parlamentares de primeira viagem.

A faixa de gastos que vai dos R$ 500 mil aos R$ 529 mil é a mais numerosa, com 30 parlamentares. Apenas do União Brasil, há sete deputados estaduais: Júnior Nascimento, Kátia Oliveira, Luciano Simões Filho, Manuel Rocha, Pedro Tavares. Sandro Régis e Alan Sanches, líder da bancada da oposição. Do PV, mais quatro: Ludmilla Fiscina, Marquinho Viana, Roberto Carlos e Vítor Bonfim. 

O PT também aparece com quatro representantes nesse recorte: Junior Muniz, Euclides Fernandes, Fátima Nunes e Rosemberg Pinto, líder da base aliada na Alba. Completam a lista Nelson leal e Hassan (PP), Ricardo Rodrigues e Ivana Bastos (PSD), Zó e Fabrício Falcão (PCdoB), Laerte do Vando (Podemos), Matheus Ferreira (MDB), Pablo Roberto (PSDB), Patrick Lopes (Avante), Raimundinho da JR (PL), José de Arimateia (Republicanos), Fabíola Mansur (PSB) e Binho Galinha (PRD).

Uma doce vida de deputado

Quase todos os demais deputados receberam de R$ 400 mil a R$ 499 mil este ano para custear, em tese, despesas com o mandato. Há apenas duas exceções abaixo dessa faixa: Neusa Cadore e Marcelino Galo, ambos do PT. Entretanto, embora os dois tenham usado, respectivamente, R$ 395,6 mil e R$ 262 mil, tanto Galo quanto Neusa Cadore, que estavam na suplência, só retornaram à Alba em março deste ano. Os valores tendem a ser ainda maiores, já que não inclui as despesas lançadas a partir de terça-feira (10). 

Por tipo de gasto, a maior soma, cerca de R$ 15 milhões, é relativa à divulgação da atividade parlamentar em 2024. O valor é praticamente a metade do total de verbas indenizatórias pagas este ano. O levantamento mostrou ainda gastos que beiram o escárnio com o uso de dinheiro público. É o caso de Vítor Azevedo (PL), que gastou R$ 24,3 mil para fretar um táxi aéreo da Abaeté no dia 19 de abril, em pleno feriadão da Semana Santa. Segundo a descrição incluída na nota fiscal apresentada pelo parlamentar, o pagamento se refere a um voo que saiu de Porto Seguro para Salvador na Sexta-Feira Paixão.