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Em ano de recorde no turismo, Carnaval traz preocupações com superlotação

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Em ano de recorde no turismo, Carnaval traz preocupações com superlotação

No ano passado, em apenas um dia, três milhões de pessoas estavam distribuídas pelos cinco circuitos oficiais da festa

Em ano de recorde no turismo, Carnaval traz preocupações com superlotação

Foto: GOV-BA/Fernando Vivas

Por: Luanda Costa no dia 30 de janeiro de 2025 às 07:48

Atualizado: no dia 30 de janeiro de 2025 às 10:37

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 30 de janeiro de 2025

A tradição do Carnaval como festejo popular nos países cristãos já dizia: período de exageros e zombaria. Claro, nos primórdios da festa ninguém sequer poderia imaginar o que ela se tornaria em Salvador, mas, coincidência ou não, exageros e zombaria definem perfeitamente a folia soteropolitana. Exagero nas cifras, na duração, mas principalmente no tamanho e na superlotação. E zombaria na fartura esfregada na cara da precariedade de categoria como a dos cordeiros.

Na corda do caranguejo

No ano passado, em apenas um dia, três milhões de pessoas estavam distribuídas pelos cinco circuitos oficiais da festa. É mais do que a população inteira da capital. A cena do trio de Ivete Sangalo tombando em cima da multidão por conta da quantidade de pessoas que se apoiavam em um mesmo lado do veículo marcou tanto quanto o “apocalipse de Baby do Brasil” e trouxe de volta uma questão: é linda essa festa faraônica, mas também é preocupante.

Trios elétricos lotados, varandas e marquises cheias de familiares, blocos, morros e calçadas onde não se enxerga nem de perto o chão, e ambulantes por todo lado - agora sobre uma plataforma para aliviar o espaço do folião. Tudo parece estar sob a normalidade, até de repente não estar. Os próprios camarotes caseiros, em apartamentos no circuito, já são motivo de preocupação para entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia. O presidente do conselho, Joseval Carqueja, já deixa o alerta: essas estruturas não foram feitas para esse tipo de aglomeração e vibrações intensas.

Trio pela metade

Neste ano, a Prefeitura reduziu o número de trios elétricos no circuito Barra-Ondina. A decisão aconteceu pela perda de um estacionamento no bairro da Graça, mas, ao menos, vai cortar de 50 para 26 equipamentos. A medida auxilia o Ministério Público da Bahia, que quer regular o número de pessoas sobre os trios para que uma tragédia aconteça.

Para quem vê de perto, como os moradores da Barra, a tragédia já é anunciada. Por isso, muitos defendem com unhas e dentes a criação de um outro circuito na região da Boca do Rio, para “desestrangular” o circuito Dodô. Mas não é só ele. Por conta da superlotação em 2024, a Secretaria de Segurança Pública chegou a fechar o acesso durante o encontro de trios na Praça Castro Alves, no primeiro dia da festa. A decisão se repetiu na Barra no sábado e também no Batatinha, na terça-feira. Quem curte a agonia que se prepare: o Carnaval está em uma corda ainda mais bamba. Afinal, se no ano passado já foi assim, o que deve acontecer neste verão que já vem batendo recorde atrás de recorde no turismo e nas festas?

Exagero de desigualdade

Nessa brincadeira de exageros, só quem não ganha são categorias como os cordeiros, que depois de muita luta conseguiram um reajuste de R$ 20 na diária de Carnaval. O Termo de Ajustamento de Conduta com os blocos, aguardado depois de tanta discussão, foi finalmente redigido e traz retrocessos em relação ao primeiro documento sobre as condições de trabalho da categoria, o Estatuto das Festas Populares, de 2009,. Se antes, os empresários deveriam oferecer 3 litros de água, agora serão apenas 2 litros, se tênis era responsabilidade dos donos de blocos, agora é obrigação dos cordeiros. E as principais reivindicações foram deixadas para, quem sabe, no ano que vem. É realmente muito exagero e zombaria.