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Bairros tradicionais sofrem processo de “boemização” e moradores entram em pé de guerra com comerciantes
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Bairros tradicionais sofrem processo de “boemização” e moradores entram em pé de guerra com comerciantes
Após a pandemia, bairros como Saúde e Santo Antônio Além do Carmo passaram por um processo de fortalecimento dos bares, restaurantes e do espírito boêmio
Foto: Metropress/Gabriela Barroso
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 5 de dezembro de 2024
Com o verão se aproximando, as sexta-feiras na capital baiana ganham novos contornos, sabores e principalmente sons. Mas, em bairros residenciais onde esse clima de boemia vem se fortalecendo, a cervejinha de uns é a dor de cabeça de outros. E assim, junto com o espírito boêmio, surge um verdadeiro pé de guerra entre moradores e comerciantes.
Até 2024, a Secretaria Municipal da Fazenda registrou cerca de 421 bares em Salvador, alguns deles nesses bairros tradicionais que foram “boemizados” no pós-pandemia, como Santo Antônio Além do Carmo e Saúde. Esse último, inclusive, foi um daqueles que protagonizou manchetes após o Ministério Público da Bahia recomendar à prefeitura medidas para combater a ocupação irregular de calçadas e vias públicas por mesas de bares. O pedido aconteceu depois de uma série de reclamações de moradores, em especial os motoristas, que queixavam-se das pessoas ocupando as ruas - o que poderia ser visto como sinal de uma cidade viva e de interação entre residentes e visitantes.
Apesar de apontar preocupação com a sujeira e a desordem que ficam no dia seguinte, Ednaldo Neto, morador do Santo Antônio Além do Carmo, reconhece que os bares ajudam a movimentar a região e estimular o comércio local. Mas, para o estudante de história, a impressão é que, a cada final de semana, há mais eventos, espaços culturais e bares no bairro. Márcia Abreu, que reside em frente à Cruz do Pascoal há 24 anos, já é mais dura: de “bairro bucólico” passamos a “pit stop do inferno”, traduz ela. A reclamação de Márcia é que as praças do bairro passaram a ser ocupadas por clientes e vendedores de churrasquinho e bebidas, e o número de mesas nas calçadas se multiplicam a cada final de semana.
O pé de guerra se repete na Pituba, onde moradores cogitam até mesmo mudar de endereço caso a situação não melhore. Há dez anos morando no bairro, Hamilton Serafim se vê nos últimos três fazendo recorrentes denúncias ao Ministério Público e órgãos da prefeitura. Ele reside atrás da Rua das Rosas, onde há ao menos 11 estabelecimentos distribuídos em cerca de 500 metros de via.
“Ninguém consegue assistir a uma televisão”, critica os moradores. No final das contas, o que esses moradores vêm passando não é muito diferente do que já acontece em bairros populares aos finais de semana. O que fica é a impressão de uma má vontade entre aqueles que deveriam tentar equilibrar a relação entre moradores, comerciantes e clientes, afinal essa poderia ser uma interação benéfica para ambos os lados: renda e lazer para alguns, vida e movimento para outros.
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