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Leito de esquecimento: Mau cheiro, esgoto e entulho marcam cursos de rios em Salvador
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Leito de esquecimento: Mau cheiro, esgoto e entulho marcam cursos de rios em Salvador
Ações de saneamento como as do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, em 1979, mostram que, quando há boa vontade e competência, é possível recuperar esses canais
Foto: Metropress/Gabriela Barroso
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de outubro de 2024
Há um mau cheiro particular que invade passarelas e outras vias de Salvador. Os mais novos podem até se confundir, acreditar que é uma curso de esgoto sem tratamento: ledo engano. Muitas das águas que circulam a céu aberto pela cidade, vistas como canais de despejo de detritos com um aroma especial, se tratam de grandes rios que compõem a bacia hidrográfica baiana. Ações de saneamento como as do arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, em 1979, mostram que, quando há boa vontade e competência, é possível recuperar esses canais. O descaso com os leitos, no entanto, torna a problemática muito mais funda, literalmente.
A arquiteta Ana Brasileiro participou do projeto com Lelé e relembra a atuação do arquiteto para recuperar as águas do Rio Camarujipe. Um dos destaques eram as “escadarias drenantes que faziam as águas escoarem por baixo de escadas que davam acessos às comunidades, alagadas pela desordem do rio”. A iniciativa era uma forma de conviver de forma inteligente e sustentável com a água. Com o passar dos anos, o rio que deságua no Costa Azul presenciou lixo, esgoto e todo tipo de descarte descendo leito abaixo. Em 2021, um projeto de indicação para estudar a viabilidade da recuperação dele chegou a ser apresentado e aprovado na Câmara de Vereadores. Desde então, no entanto, nada foi feito.
E a situação não é apenas no Camarujipe. Rio das Pedras, do Cobre, Jaguaribe, dos Seixos, Paraguari, Passa-Vaca também. Em alguns deles já foram flagrados até sofá e geladeira descendo rios abaixo. E, para além das águas visíveis, as águas subterrâneas também são afetadas. Coordenador do Setor de Geografia do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Jémison Santos acredita em uma omissão proposital. “Ações políticas definiram o caos que se encontram as bacias de Salvador. Aliadas aos aspectos econômicos, a fauna e flora são afetados não por uma ausência de planejamento, mas por um planejamento da ausência”, analisa.
Desmatamento das margens e o lançamento de esgotos são os principais fatores de degeneração de diversos cursos, como o Rio das Tripas, aquele que corre ao lado da estação metroviária Acesso Norte e é conhecido pelo inconfundível mau cheiro. Outro conhecido soteropolitano é o Rio Lucaia, que, inclusive, deságua parte de seu curso em um cartão postal, o Dique do Tororó. O rio está quase 100% tamponado no corredor de ônibus da Avenida Vasco da Gama. A deseducação ambiental faz com que a população sequer saiba da existência desses rios.
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