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A preço de banana: Potência cultural, Salvador tem acervos deixados à mercê do tempo e descaso

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A preço de banana: Potência cultural, Salvador tem acervos deixados à mercê do tempo e descaso

Cinco pinturas assinadas por José Teófilo de Jesus, pertencentes à Ordem Terceira de São Francisco de Salvador, foram encontradas em um museu em São Paulo

A preço de banana: Potência cultural, Salvador tem acervos deixados à mercê do tempo e descaso

Foto: Divulgação/Ufba/Iphan

Por: Luanda Costa no dia 29 de agosto de 2024 às 10:29

Atualizado: no dia 29 de agosto de 2024 às 13:33

Entrevista publicada originalmente no Jornal Metropole em 29 de agosto de 2024

Arte em Salvador é troco de pão. Aquele que você amassa, joga no bolso e no final das contas sequer lembra onde ficou. Em seu ideal de “cidade das histórias”, a capital enfrenta uma grande luta contra a irresponsabilidade sobre acervos centenários. A cidade ainda atrai milhões de turistas, mesmo quando suas obras misteriosamente somem, mesmo quando um museu ameaça desabar sobre elas ou quando um acervo é vendido a preço de banana e renegado.

É assim que a coleção de 18 mil volumes construída pelo falecido historiador Cid Teixeira está à venda pela bagatela de R$ 100 mil. É como se cada livro custasse R$ 5. A família do professor prioriza a venda para uma instituição baiana, mas até agora o interesse foi quase inexistente no estado. São obras literárias, livros assinados de Carybé e Pierre Verger, além de jornais do Brasil colônia, tudo isso visto como uma poltrona velha à procura de um dono.

E como o desejo é uma façanha, há também quem, facilitado pela inexistência de atenção, se aposse de obras. O Ministério Público Federal pediu a restituição de cinco pinturas assinadas por José Teófilo de Jesus, pertencentes à Ordem Terceira de São Francisco de Salvador. Do nada (expressão utilizada para encobrir os meios), os exemplares de 1845 apareceram no Museu Afro Brasil, em São Paulo. Como se fossem objetos que colocam em uma sacola debaixo do braço e carregaram por aí. Na realidade, são patrimônios retirados da posse dos responsáveis há pelo menos 7 anos.

Não são casos isolados. “No geral, as instituições que guardam a memória brasileira carecem de atenção daqueles que deveriam zelar e tomar iniciativas assertivas”, explica o historiador Rafael Dantas. Ele relembra o fechamento do Museu de Arte Sacra da Universidade Federal da Bahia. Na contra mão do que vem acontecendo com parte dos acervos historicos e culturais no estado, o equipamento suspendeu suas atividades em plena celebração de seus 65 anos. A intenção é justamente presevar suas obras. Problemas na estrutura do prédio ameaçam a segurança do local e da maior coleção de arte sacra barroca da América Latina.