Jogo de hipocrisia: Paulo Nogueira Batista Jr. analisa geopolítica na eleição venezuelana

Diz o ditado que macaco costuma falar dos outros e não olhar o próprio rabo. Foi recorrendo a essa sabedoria popular que o economista Paulo Nogueira Batista Jr., em entrevista à Rádio Metropole, analisou um tema tão complexo e que vem sendo massivamente debatido pela imprensa: as eleições e a situação geopolítica da Venezuela.

O país vizinho, alvo de uma série de sanções impostas pelos Estados Unidos, virou um dos protagonistas do discurso da extrema direita brasileira, que o coloca como uma “ditadura sanguinária esquerdista, que submete seu povo à miséria”. A eleição venezuelana então não passaria despercebida no Brasil, mas para Nogueira, que já foi presidente-executivo do FMI (Fundo Monetário Internacional) e vice-presidente do banco dos Brics, o que está acontecendo é uma questão fundamentalmente geopolítica. “Só que geopolítica disfarçada de preocupações hipócritas com Direitos Humanos e com democracia”.

Sobre a possibilidade de fraude na eleição, Nogueira é taxativo: à distância, pouquíssimas pessoas, se é que tem alguém capaz, podem falar com precisão sobre o resultado. Só será possível a partir das atas da votação, que foram entregues na segunda- -feira ao Tribunal Supremo de Justiça do país.

“Mas o fundamental é o seguinte: quem é está falando da falta de democracia na Venezuela? O Brasil, que não tem tradição democrática e acabou de sofrer um golpe parlamentar em 2016? Os EUA? Ninguém pergunta como é a democracia norte-americana. Pra mim, ela merece muitas aspas, porque o que existe lá é um sistema político plutocrático, onde o dinheiro manda. A expressão lá em relação ao Congresso é ‘o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar’”, pontuou.

É por isso que, para Nogueira, o ditado popular faz tanto sentido. Os EUA não olham o próprio rabo, já que “não têm moral para ditar regras de democracia, prova disse é que, quando conveniente, apoiam ditadores como o da Arábia Saudita”.