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Onde tudo começou: Porto da Barra já foi símbolo de Salvador agora mistura diversidade e problemas das grandes cidades

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Onde tudo começou: Porto da Barra já foi símbolo de Salvador agora mistura diversidade e problemas das grandes cidades

Praia já considerada uma das melhores do mundo mistura história, natureza, problemas da cidade grande e gente de todo tipo e classe social

Onde tudo começou: Porto da Barra já foi símbolo de Salvador agora mistura diversidade e problemas das grandes cidades

Foto: Taís Lisboa/Metropress

Por: Daniela Gonzalez no dia 08 de agosto de 2024 às 11:21

Em uma segunda-feira de céu nublado, a Praia do Porto da Barra, em Salvador, ainda não exibe sua habitual disputa entre banhistas por literalmente um espaço ao sol – pelo menos, não naquele momento. Mas todo soteropolitano sabe que, à medida que o dia avança e o clima oscila, aquela curta faixa de areia se torna o metro quadrado mais valorizado do litoral soteropolitano. 

Com uma faixa de areia de 600 metros de largura, uma água morna e um mar quase sem ondas, o Porto, como é carinhosamente chamado pelos soteropolitanos, é símbolo da cidade. Foi nesse local onde, em 29 de março de 1549, o navegador português Tomé de Sousa desembarcou com a missão de fundar a primeira capital do Brasil.

Mas essa é história antiga. Agora, o Porto é cenário presente nos versos musicais de Gilberto Gil, é uma das praias favoritas dos soteropolitanos e turistas e, em 2007, foi eleita pelo jornal britânico The Guardian como a terceira mais bonita do mundo. Quem visita o Porto frequentemente se depara com celebridades, até Caetano Veloso costuma aparecer por lá. “Você já foi à Bahia? Não? Então vá!”. Os versos de Dorival Caymmi são, de fato, um excelente conselho. Aqui, pedimos licença ao amante de Itapoan para humildemente acrescentar: “Você já foi ao Porto da Barra? Então vá!”.

Entre os séculos

A Barra, que nasceu como uma fortaleza militar, foi se transformando ao longo do tempo. No início do século 20, com a ideia de modernizar e embelezar a cidade nos moldes parisienses, iniciou o processo de urbanização naquela região. As famosas balaustradas são algumas das heranças desse urbanismo afrancesado na capital. Na época, a nova reconfiguração da cidade direcionou o crescimento para aquela área, que saiu da região com casas de veraneios e quintais para um requisitado bairro residencial da elite baiana. Grandes investimentos foram feitos para ampliar as principais vias de acesso, como a Avenida Sete de Setembro, que conecta a Barra ao Centro, e a Avenida Oceânica, que segue em direção ao Rio Vermelho. Mas o costume de ir à praia ainda era recente, então as pessoas se deliciavam na orla, respirando aquela atmosfera de tranquilidade e de beleza.

Quem conhece bem as areias do Porto da Barra é Almir Santos, barraqueiro há mais de quatro décadas e, hoje, com 63 anos. Suas memórias do lugar de onde retira o sustento de sua família vêm com a tranquilidade das ondas do Porto. Almir acompanhou de perto as obras de requalificação mais recentes, viveu a pandemia que paralisou as atividades e notou o afastamento gradual das celebridades que costumavam frequentar o local. Ele também testemunhou a transformação mais recente das vias principais, agora mais amigáveis para pedestres e ciclistas, com novas praças e restaurantes.

Mas, para ele, nem tudo são flores. Um dos problemas que mais incomoda Almir é a falta de banheiros públicos. “Como é que um cartão-postal, que atrai tanta gente, não tem banheiro químico?” E ele tem razão: os banheiros públicos mais próximos estão a cerca de 1 km de distância.

Dos ricos aos pombos

Todo soteropolitano sabe: ir ao Porto Barra não é nenhum bicho de sete cabeças. Já foi, as mulheres que pisavam naquelas areias tinham medo de ser mal faladas. Para curtir o mar sem esse risco, era preciso ir ao Farol. Hoje, o espaço é democrático, mesmo com a lotação de banhistas sempre há espaço para mais um. Vai do rico ao pobre, da família ao grupo de jovens, dos atletas aos gringos deslumbrados e até dos pombos aos ratos atraídos pelo lixo na areia. Todos muito à vontade, com certeza de que basta alguns passos para um vendedor oferecer uma cadeira e um sombreiro, tudo naquele precinho. É comum encontrar figuras já conhecidas dos frequentadores. Artistas, baianas, vendedores de queijo coalho, pescadores, empreendedores que apostam na criatividade. Todos apaixonados pelo Porto, mas com um um desencantamento lá no fundo.

Luís Fernando, por exemplo, pesca na região todo santo dia, qualquer que seja a estação. As atividades começam cedo: os barcos, que ficam em uma das rampas de acesso, são retirados e os preparativos logo começam. Para ele, são 35 anos esperando mais estrutura, um espaço específico para os barcos, como as colônias de pescadores, sugere ele.