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Mancha de destruição: Especialistas explicam se Salvador pode ser atingida por eventos semelhantes ao que causou a tragédia RS

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Mancha de destruição: Especialistas explicam se Salvador pode ser atingida por eventos semelhantes ao que causou a tragédia RS

Especialistas ouvidos pelo Jornal Metropole apontam que fortes temporais, como o do Rio Grande do Sul, devem ficar mais frequentes

Mancha de destruição: Especialistas explicam se Salvador pode ser atingida por eventos semelhantes ao que causou a tragédia RS

Foto: Reprodução/Versa

Por: Daniela Gonzalez no dia 16 de maio de 2024 às 00:58

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 16 de maio de 2024

Nas últimas semanas, um cenário de destruição impressionou o mundo: veículos, casas, centros históricos e cidades completamente submersas na água dos temporais e enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul. O drama do cavalo Caramelo preso há dias em um telhado, a situação do Aeroporto Salgado Filho completamente inundado e tantas outras imagens serviram como alerta. Mais de 140 pessoas perderam a vida - número que evidencia a dor de centenas de famílias e também o despreparo do país para lidar com catástrofes ambientais.

A cada nova temporada de chuvas intensas, o caos volta a diversas regiões — em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, em Recife Bahia. É errôneo supor que sejam casos isolados. Na Bahia, em 2021, temporais afetaram 163 cidades e resultaram em 26 óbitos. Não é difícil se colocar no lugar da população gaúcha e questionar a probabilidade de eventos similares ocorrerem na capital baiana. Um grupo de estudos dos institutos Urbideias e Versa fez projeções da mancha de inundação de Porto Alegre nas capitais do país. Em Salvador, o estrago atingiria a região do Farol e Porto da Barra e vários bairros do centro. Ilha de Itaparica, Simões Filho, Camaçari e Lauro de Freitas também seriam afetadas. A projeção não leva em conta o fato de Salvador ser uma península, mas dá uma ideia da dimensão da vasta área impactada.

Ao Jornal da Metropole, o professor de Planejamento Urbano e Regional Armando Branco explicou que, por conta das geologias diferentes de cada cidade, Salvador não deve enfrentar uma situação com a magnitude de Porto Alegre, mas por aqui o risco de inundações e deslizamentos é recorrente. Branco apontou um erro no planejamento da capital baiana, que a partir dos anos 1970, passou a desenhar avenidas de vale, seguindo o curso de vales e encostas.

“Não era para haver pistas de veículos nas proximidades das margens dos rios e, pior ainda, ‘sepultaram’ rios. Com as mudanças climáticas e o aumento das precipitações, se a maré das praias estiver elevada, ocorrerá a retenção das águas, provocando alagamentos. O que já ocorre na Cidade Baixa”, detalhou o professor.

Os perfis meteorológicos também são destinos nas capitais baiana e gaúcha, sinaliza a meteorologista Cláudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). De acordo com ela, não é válido fazer comparações entre as regiões, mas mudanças climáticas têm promovido a variabilidade nesses fenômenos meteorológicos no mundo inteiro. Chuvas mais intensas em poucas horas ou dias, por exemplo, são um dos fatores observados nas últimas décadas. “A Bahia pode ter eventos de chuvas intensas. Inclusive, esse fenômeno aconteceu em 2021. O que não temos agora é previsão a curto prazo. No entanto, cada vez mais vamos ter recorrências de fortes temporais, como ocorreu no mês de abril, em Salvador”, destacou.

E o poder público?

A tragédia atual pode ser apenas o prenúncio de eventos ainda maiores, decorrentes das mudanças provocadas pelo aquecimento global. Essa é a análise do cientista político Cláudio Couto, que, em entrevista à Rádio Metropole, questionou quais medidas de contenção foram adotadas para lidar com a crise climática.

“Quais foram as decisões políticas tomadas ao longo do tempo que permitiram que uma tragédia dessa acontecesse? Ela não resultou do nada, não resultou do azar, é resultado de uma série de decisões que as pessoas vão tomando ao longo do tempo”, disse.