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Um tiro no pé: Série do Jornal Metropole relembra atentado contra Carlos Lacerda, que levou ao suicídio de Vargas

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Um tiro no pé: Série do Jornal Metropole relembra atentado contra Carlos Lacerda, que levou ao suicídio de Vargas

Série "Agosto" conta, a partir desta edição do Jornal Metropole, episódios marcantes da história do Brasil ocorridos no mês conhecido como o mês do desgosto

Um tiro no pé: Série do Jornal Metropole relembra atentado contra Carlos Lacerda, que levou ao suicídio de Vargas

Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados/Arquivo Nacional

Por: Nardele Gomes no dia 10 de agosto de 2023 às 12:10

Atualizado: no dia 10 de agosto de 2023 às 12:17

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 10 de agosto de 2023

5 de agosto de 1954, Rua Toneleiro, Rio de Janeiro. Era madrugada. O jornalista e político Carlos Lacerda, um dos mais ferrenhos opositores do presidente Getúlio Vargas, voltava pra casa. Ao sair do carro, na companhia de seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens Vaz, Lacerda foi alvo de uma conspiração assassina e fracassada que acabou com a morte do Major e o próprio Lacerda ferido no pé.

Mas as consequências daquele atentado foram além e levaram ao suicídio de Getúlio Vargas. Quem era Carlos Lacerda? Quem tomou a decisão de matá-lo? E por que Vargas atirou contra o próprio peito dias depois, ainda naquele mês daquele ano? Isso é o que vamos entender na série especial Agosto, que conta a partir de hoje episódios marcantes da história do Brasil ocorridos no mês conhecido como o mês do desgosto, o mês das ventanias.

O nome Carlos Frederico de Lacerda não é à toa. Carlos vem de Karl Marx, e Frederico vem de Friederich Engels. Marx e Engels, os dois pensadores que criaram o Manifesto Comunista no século XIX. O próprio Lacerda vinha da militância comunista desde a juventude. Participou ativamente da criação da Aliança Nacional Libertadora, partido que surgiu na década de 30 com foco no combate ao fascismo.

Mas depois da derrota da Intentona Comunista de 1935, levante armado organizado pelos comunistas pra tirar Getúlio do poder, Lacerda teve que se esconder numa chácara da família para se proteger. Rompeu com o movimento comunista em 39, por considerar que ele "levaria a uma ditadura pior do que as outras, porque muito mais organizada, e, portanto, muito mais difícil de derrubar".

Acabou se tornando uma das vozes mais firmes da direita conservadora, e seguiu batendo de frente com Getúlio. No início da década de 50, em que Vargas havia voltado ao poder eleito pelo povo, o país vivia uma grave crise política e foi marcado por fortes tensões sociais que abalaram o governo. Algumas atitudes políticas de Getúlio, como a proposta de criação da Petrobrás e a manutenção dos preços altos do café desagradaram os Estados Unidos, que se aliaram à oposição, capitaneada pela UDN, União Democrática Nacional.

As acusações contra Getúlio feitas diariamente por Carlos Lacerda em seu jornal Tribuna da Imprensa colaboraram para tornar a situação crítica. E em agosto de 1954, a guarda pessoal do presidente Vargas entendeu que Lacerda precisava ser silenciado a qualquer custo. O chefe da guarda, Gregório Fortunato, tramou tudo e contratou um pistoleiro para matar Lacerda.

O então ministro da Justiça, Tancredo Neves, contou anos depois, que ao levar as informações ao presidente Vargas na manhã seguinte, o ouviu dizer que o tiro que havia acertado o Major Vaz, o acertara também pelas costas.

Dias depois, a placa do carro usado pelo pistoleiro foi divulgada nas rádios. O motorista se entregou à polícia. A princípio, negou envolvimento, mas acabou dando o nome de quem o contratou. Climério Euripes de Almeida, parte da guarda pessoal de Vargas. A ligação entre o crime e a guarda pessoal do presidente estava feita. O que era crítico se tornava insustentável.

Na próxima matéria desta série você vai relembrar a sequência de fatos que levaram ao suicídio de Getúlio Vargas naquele mês de Agosto.