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Engrenagens que constroem reputações e candidaturas

Engrenagens que constroem reputações e candidaturas

O governo tem sua parcela de culpa, mas o jogo da construção e desconstrução política tem engrenagens que operam além dos erros ou acertos de um presidente

Engrenagens que constroem reputações e candidaturas

Foto: Reprodução

Por: metro1 no dia 20 de março de 2025 às 06:57

João Santana, um dos mais brilhantes profissionais de marketing e comunicação do Brasil, já detectava em 2022 um fenômeno que agora chama de “fadiga de material”. Ele se referia à imagem de Lula e ao desgaste natural que um governo enfrenta diante de um cerco constante. Mas isso não acontece no vácuo. Como bem aponta o filósofo italiano Franco “Bifo” Berardi, as categorias tradicionais da sociologia e da antropologia já não dão conta de explicar o que vivemos. O impacto das redes sociais criou uma revolução tecno-antropológica, transformando radicalmente o jogo político.

O fenômeno Milei na Argentina, Trump nos Estados Unidos e até mesmo a ascensão de Pablo Marçal em São Paulo são resultados desse novo cenário. Eles emergem de um sistema onde as redes sociais moldam percepções, constroem candidaturas e destroem reputações em velocidade recorde.

A fragilidade do governo atual, com uma minoria esmagadora no Congresso, soma-se a erros estratégicos e à incapacidade de reagir ao cerco. Isso se espalha, cria um sentimento coletivo de paralisia e gera uma espécie de anomia política. Mesmo quando acerta, o governo parece estar sempre errado.

Projetos de poder são estruturados de cima para baixo, sustentados por narrativas cuidadosamente construídas. Um levantamento de Lilan Cunha, publicado no UOL, revelou que, nos últimos quatro anos, o chamado “mercado” errou 95% das projeções sobre economia e bolsa. Erros repetidos acriticamente pela imprensa tradicional, criando um ambiente econômico e social conveniente para certos grupos.

Isso tem consequência direta na construção e destruição de candidaturas. Pablo Marçal, fenômeno eleitoral em São Paulo, quase chegou ao segundo turno, mas cometeu um erro fatal ao forjar um falso escândalo de drogas para atacar Guilherme Boulos. Ele se tornou inelegível dias depois da eleição, já Tarcísio de Freitas, que associou Boulos ao PCC na manhã do pleito, saiu impune.

O juiz que cassou Marçal foi o mesmo que, 15 dias depois, absolveu Tarcísio. O direito permite interpretações, mas a história tem sua lógica própria. O Brasil já assistiu a inúmeras manobras desse tipo, onde se constrói e desconstrói candidaturas conforme os interesses do poder econômico e político.

O ciclo se repete. O governo tem sua parcela de culpa, mas o jogo da construção e desconstrução política tem engrenagens que operam além dos erros ou acertos de um presidente. Como sempre, com participação ativa da imprensa.

* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras

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