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20 anos de redes sociais e o Brasil ainda não tem a sua

20 anos de redes sociais e o Brasil ainda não tem a sua

Sim, sinto saudades do Orkut. Mas a questão mais importante aqui é perceber como aquele troço juvenil se transformou num monstro com o advento do Twitter, Facebook e as subsequentes

20 anos de redes sociais e o Brasil ainda não tem a sua

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 20 de março de 2025 às 06:45

Você se lembra do Orkut? Sente saudades ou nem tem idade para ter criado um perfil na primeira rede social? Pois é, 20 anos depois, o que era um brinquedinho inofensivo para estudantes universitários se transformou numa ferramenta poderosíssima que impacta tudo: do comércio à política, além dos relacionamentos afetivos. Na verdade, 21, pois o Orkut foi lançado em 2004, mas a rede só nasceu mesmo no ano seguinte, quando caiu nas mãos de jovens desocupados do Brasil e da Índia. Um sucesso avassalador! Eu caí na rede já naquele 2005 e só larguei quando acabou. Ali fiz amizades, iniciei namoros, deixei e recebi depoimentos melosos, participei de discussões e de comunidades super úteis como "Nunca usei uma borracha até o fim" e "Eu peido enquanto mijo". Também criei comunidades (aliás, o melhor recurso do Orkut, até hoje não igualado por nenhuma outra rede social) dedicadas a artistas como Ronaldo Azeredo e Arto Lindsay.

Sim, sinto saudades do Orkut. Mas a questão mais importante aqui é perceber como aquele troço juvenil se transformou num monstro com o advento do Twitter, Facebook (desde o início mirando empresas, comércio, política etc) e as subsequentes. O antropólogo Hermano Vianna chamou, ainda em 2013, a rede criada por Mark Zuckerberg de "território antipático" e alertou para o risco de delegarmos a ela partes muito importantes de nossas vidas e atuação sócio-política. Foi criticado, mas, pelo visto, estava certo. Sou do tempo em que pais e mães não usavam Orkut, hoje até empresas públicas precisam ter perfis ativos em redes sociais. E, o mais desgraçadamente revelador: o Brasil, grande impulsionador com usuários, desde o início, de todo esse processo, até hoje não criou a sua própria rede. Por quê?

Parece que nossa vocação mais profunda é ser mesmo gado na distribuição dos arrobas (@): cabras marcados para morte e vida severina. País de dimensões continentais, não temos sequer o nosso próprio GPS, que a Índia, por exemplo, já desenvolveu. Ou seja, quando o mundo se acabar, estaremos nos atracando com a piriguete do tinder em algum beco escuro, mas não saberemos exatamente onde. Kissus!  

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