
Carnaval do Axé e da Paz
Os programas sensacionalistas que fazem compilados de brigas para passar depois da festa, terão mais trabalho este ano. Espero que também saibam evoluir

Foto: Reprodução
O Carnaval dos 40 anos do Axé Music ficou marcado, pelo menos para mim, não apenas pelas merecidas homenagens ao movimento que agitou e agita o mundo a partir de nossas ruas e circuitos. Ficou marcado também como o Carnaval da paz. Esse é um movimento que vem crescendo e que nesse ano atingiu um ponto quase inimaginável para quem viveu carnavais nos anos 1970 (não é o meu caso), 80 (tampouco), 90 (agora sim) e 2000. Aquele verso do frevo de Caetano Veloso ilustra bem: "mete o cotovelo e vai abrindo o caminho". Pular carnaval sempre teve, no ambiente trieletrizado, algo de belicoso, de briguento, que inclusive moldou novos passos de dança e toda uma postura corporal típica da festa. Eu mesmo já presenciei incontáveis sopapos, pontapés e até facadas durante a brincadeira (sem contar as famosas "fantadas" da polícia). Pois, de uns anos para cá, isso vem mudando consideravelmente e, como eu já disse, esse ano atingimos um ponto realmente incrível. Minha experiência pessoal é a seguinte: saí todos os dias e não vi uma briga sequer.
A evolução me parece fruto de vários fatores, incluindo o aumento do efetivo policial; o monitoramento que facilita o trabalho deles, mas também inibe suas agressões gratuitas a foliões; o crescimento do pagodão como ritmo; e um ganho de consciência do próprio folião que me parece algo tão complexo que não poderei esmiuçar aqui. Resultado é que hoje atingimos um estágio do pular carnaval que dá esperanças civilizatórias ao Brasil. Lembro da pergunta do filósofo Eduardo Giannetti ao mesmo Caetano, sobre a possibilidade de o nosso país ganhar civilidade sem perder vigor, fórmula que lhe parecia praticamente impossível. Pois nas rodas que vi na avenida, foi exatamente isso que aconteceu. Todo mundo pulando no auge da energia, mas sem extrapolar para a agressão. Uma coisa linda!
Os programas sensacionalistas que fazem compilados de brigas para passar depois da festa, terão mais trabalho este ano. Espero que também saibam evoluir. Uma boa quaresma a todos!
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