Segunda-feira, 10 de março de 2025

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O que fazer com o tráfico

O que fazer com o tráfico

Ao contrário de estancar a disputa entre as duas facções, as mortes dos integrantes do CV acirraram o conflito na Fazenda Coutos

O que fazer com o tráfico

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 07 de março de 2025 às 00:39

O título não é uma pergunta. Se fosse, não haveria resposta. Qual o gestor público brasileiro cujo governo foi ou é uma evidência de que é possível solucionar o tamanho abissal dos problemas gerados pelo tráfico? Fiquemos num exemplo das bordas do que a circulação e o consumo de drogas são capazes de gerar numa cidade: a Cracolândia, no centro da cidade mais rica do país, São Paulo, e nas últimas décadas governada por todos os espectros políticos. PT, PSDB, PSD, PTB, MDB, DEM etc. Várias propostas foram produzidas e colocadas em prática. Todas foram ineficazes, e os zumbis continuam migrando de rua em rua no centro da capital paulista e sempre aterrorizando a população em torno. 

Volta e meia Ronaldo Caiado, governador de Goiás e pré-candidato à Presidência, anuncia aos colegas governadores, incluindo o da Bahia, que tem a fórmula para enfrentar a criminalidade e usa seu estado como exemplo de paraíso anticrime. Deve estar guardando a receita para o seu plano de governo, se a direita permitir que seja ele o ungido para a disputa do espólio do bolsonarismo. E criminalidade e poder do tráfico nacional e internacional de drogas não são fenômenos sinônimos, embora tenham intersecções gigantescas. 

Acordo entre PCC e CV

Na Bahia, o mais recente capítulo do problema aconteceu no fim da tarde do último dia de Carnaval, quando um confronto entre duas facções, o BDM e o CV,  disputando território no bairro de Fazenda Coutos, e a ação da Polícia Militar resultaram em 12 integrantes da facção carioca mortos. A operação da PM continuou nos dias seguintes. Escolas e comércio fechados, transporte coletivo suspenso, população em pânico e policiais sob a ameaça de retaliação orquestrada do tráfico para vingar os mortos. Na quinta-feira, enquanto o IML liberava os primeiros corpos identificados dos 12 mortos (entre 17 e 27 anos), população e Polícia lidavam com a ameaça real de acirramento da ação das facções após os enterros. 

Ao contrário de estancar a disputa entre as duas facções, as mortes dos integrantes do CV acirraram o conflito na Fazenda Coutos, com os dois grupos espalhando o medo com boatos de que seus bondes de outros bairros estavam se deslocando para reforçar a disputa, prometendo ações de vingança. A operação policial se mantinha, reforçada. Em pouco tempo, a operação e as consequências geradas por ela serão apenas mais um capítulo amarelado da escalada do poder das facções, enxugamento de gelo, o clichê que traduz a eficácia da ação do estado para enfrentar o tráfico. Simultaneamente, nos presídios de segurança máxima nacionais, os líderes presos das duas maiores facções nacionais, o CV e o PCC, costuraram um acordo de cooperação e aliança cujo objetivo é conquistar mais benefícios no Regime Disciplinar Diferenciado a que estão submetidos. Não se surpreenda se forem bem-sucedidos na reivindicação.