O governo precisa acordar

Eu tenho achado as coisas muito mais obscuras do que a minha capacidade de percepção pode traduzir. E não só no Brasil, a confusão mundial não é menor, só é mais visível, mais chocante para os leigos do que a confusão brasileira, mas menor não é não.

O que nós, democratas, podemos fazer? É pouco, é quase nada. Talvez o fundamental fosse a mobilização já contra projetos de anistia, tentativas de subverter a tendência dos processos contra os golpistas, atenuando as condenações já aplicadas ou até retirando as condenações já aplicadas.

Mas não se conta com um partido, um movimento, instrumentos de mídia, não se conta com nada disso em defesa da democracia. São muito poucos os recursos de mídia que merecem confiança verdadeira e que estão apegados à ideia de se preservar o regime democrático. O restante está apegado à ideia de negócio, cada vez mais é retroagindo no jornalismo em favor dos seus departamentos comerciais. 

Ocupação de postos

Uma informação importante é que o rei do etanol, maior financiador de políticos de direita no Brasil, Rubens Ometto, está com dívida de R$ 59 bilhões, segundo o noticiário econômico. É uma baixa importantíssima, porque ele é o articulador dos doadores do agro e coordenador mais importante do grupo. Ele pensou, inclusive, em criar um jornal de extrema-direita, mas, ao que consta, foi convencido ou preferiu, por questão financeira, facilitar a vida financeira do Estadão. 

O agro tem uma força excepcional do ponto de vista eleitoral no Brasil e dificilmente controlável. Mas, do meu ponto de vista, não é o que mais deva preocupar. O que mais precisamos, nesse momento, é que o governo acorde. É que o governo se crie, porque até agora não foi criado um governo Lula. O que existe é uma ocupação de postos de governo. Mas não existe governo. Porque são 38 ministros, mas ministros mesmo não chegam a meia dúzia.

É preciso rever isso com urgência, com seriedade, sem concessões excessivas, concessões políticas só, concessões ao gangsterismo não podem mais ser feitas. É um absurdo o tipo de exigências que os dirigentes do Congresso têm feito para obtenção de ministérios, de postos.

É preciso reagir a isso e quem pode reagir é quem vai negociar isso e escolher, entre as ofertas, os nomes que vão ocupar os ministérios. E se nenhum prestar minimamente, não pode ser aceito em troca da aprovação de A ou B. Denuncie essa chantagem. O povo brasileiro precisa entender como é que está se constituindo secretário dos estado e os ministérios no Brasil.

* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras