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Sexo biológico, política e o Gandhy
A pauta trans está no Carnaval, na política e, principalmente, no debate jurídico
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Foto: Reprodução
Recentemente, Rodrigo Perez, professor de História da Universidade Federal da Bahia, foi alvo de uma moção de repúdio aprovada em um congresso de um sindicato nacional de professores universitários, acusado de ser entusiasta do genocídio trans. Bastante ativo nas redes sociais, autor de diversos artigos sobre a intersecção entre esquerda, ativismo identitário à esquerda e à direita, pauta de costumes e ascensão da extrema direita, Perez havia se manifestado dias antes contrário, em suas redes sociais, sobre um tema bem caro à causa do ativismo trans: a reivindicação de que homens e mulheres trans, em ambiente carcerário, devem, respectivamente, ocupar celas comuns a homens e mulheres cis.
No mundo jurídico, a questão está bem longe de ser resolvida. Mulheres trans devem cumprir pena em celas de mulheres cisgênero? Mulheres cis são quem se identifica com o sexo biológico com que nasceram. Quem nasce com o órgão sexual feminino e se identifica como mulher é uma mulher cisgênero. Quem nasce com o órgão sexual masculino e se identifica como mulher é uma mulher trans. Os posts do professor sobre o identitarismo e sobre sua defesa quanto à moção em suas redes explicam melhor o episódio e os embates em torno do assunto.
Vai ter trans no Gandhy?
Todo Carnaval tem suas polêmicas, das letras da música aos comportamentos da vez. Desta vez, quem manchetou uma das grandes polêmicas da festa, antes mesmo de ela começar, e provavelmente com repercussões ainda por vir, foi o mais tradicional afoxé da Bahia, o Filhos de Gandhy, que introduziu em um termo de aceite para os sócios esta limitação: “10. De acordo com o Artigo 5º do estatuto social, só poderão ingressar na Associação pessoas do sexo masculino cisgênero. Por isso a venda do passaporte será apenas a esse público”.
Na imprensa e nas redes, em segundos essa regra se transformou neste enunciado: “Afoxé Filhos de Gandhy veta participação de homens trans no desfile carnavalesco”. No dia seguinte, diante da repercussão e acusação de transfobia, o afoxé desistiu do impedimento. A evidência do quanto a pauta do sexo biológico versus a resistência de parte da sociedade está tensionada apareceu também numa fala de Washington Quaquá, vice-presidente do PT. Diante da queda vertiginosa da aprovação do presidente Lula nas pesquisas, Quaquá atacou a pauta dos costumes abraçada pelo partido e acusa a própria legenda de ter deixado de ser um partido de esquerda para se transformar em uma ONG de comportamentos. A cisgeneridade e a pauta trans está no Carnaval, na política e, principalmente, no debate jurídico. Mas, afinal, vai ter trans no Gandhy?
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