O Brasil que presta e o valetudo nas redes
Saem de cena os checadores de informação e os californianos descolados moderando conteúdos. Todos demitidos. Assumem o comando os texanos conservadores e está tudo liberado
Foto: Reprodução
O prêmio de melhor atriz na categoria drama, conquistado por Fernanda Torres no Globo de Ouro, se tornou, no Brasil, um acontecimento tão celebrado quanto uma medalha olímpica ou a conquista de um campeonato internacional de futebol. Imagens, textos, posts e memes sobre ela são, agora, onipresentes. Uma de suas falas, nas milhares de entrevistas que tem dado no mundo inteiro, merece ser adotada como uma das hashtags mais bonitas para se usar, em meio a tanta frase feita e ruim: a vida presta.
Como nada foge à polarização, e os beatos Salus da extrema-direita aqui e ali murmuram bílis como “o filme ‘Ainda estou aqui’ é propaganda lulista financiada pela Lei Rouanet”, a fala de Fernanda foi imediatamente incorporada pelos progressistas e transformada em “O Brasil que presta”. No caso, o substantivo Brasil é usado para defini-la, a sua mãe, Fernanda Montenegro, e todo o elenco e os resultados do filme de Walter Salles, provavelmente o bilionário mais cool do país e cujos filmes são pura poesia brasileira.
Ky e texanos
Mas como toda festa boa sempre acaba antes do que desejávamos, assim foi. Enquanto o Brasil, e muita gente bacana no mundo, achava o máximo que um filme que documenta o horror que são as ditaduras, o quanto isso acena para a disposição do mundo para olhar com mais gentileza para as democracias hoje sob ataque em diversos países do mundo, o boss mais associado a esses ataques conseguiu um feito e tanto nesta terça-feira. Donald Trump, agora presidente dos Estados Unidos, e após uma vitória muito maior e muito mais simbólica que a primeira, ganhou de presente o apoio, senão a capitulação, de Mark Zuckerberg, o Mr. Meta, Facebook e Instagram.
Em suas próprias redes, Zuckerberg anunciou o perfilamento absoluto aos valores do governo dos Estados Unidos nos conteúdos, seja lá o que isso signifique. Saem de cena os checadores de informação e os californianos descolados moderando conteúdos. Todos demitidos. Assumem o comando os texanos conservadores e está tudo liberado. Ninguém vai excluir ou banir conteúdo algum, seja de ódio, político, de gênero, xenofóbico, ideológico. Raríssimas coisas serão moderados. Conteúdo envolvendo crianças, por exemplo. Ah, mas há um certo KY no ar, para os otimistas continuarem presos à teoria do consolo: o recuo da Meta e a filiação aos conceitos de democracia, liberdade e tolerância ao livre pensamento segundo a cartilha Trump, dizem, só vale para os Estados Unidos. Por enquanto.
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