Fernanda Torres e a injustiça das premiações

Fernanda Torres ganhou o Globo de Ouro — que não garante, mas que muitos especialistas consideram um passo importante para o Oscar de Melhor Atriz. Seja como for, sua atuação no filme "Ainda Estou Aqui", de Walter Salles, está acima do juízo de qualquer premiação. Mesmo porquê, devemos lembrar, a injustiça é um fator comum na história desses eventos. Basta citar que, em 1999, a mãe de nossa heroína, a enorme Fernanda Montenegro de "Central do Brasil" viu a estatueta parar nas mãos da "ok" Gwyneth Paltrow de "Shakespeare Apaixonado". Mas esse está longe de ser o único caso de premiação contestável. Assim como a bagaceira está longe de resumir-se ao Oscar. Por exemplo, o Prêmio Nobel: Jorge Luis Borges não ganhou, João Guimarães Rosa não ganhou, James Joyce não ganhou. E, afinal, perderam o quê? Perdeu o Nobel por não tê-los em sua galeria.

A verdade é que esse negócio de ganhar prêmio no meio artístico sempre terá algo de caipira. Sartre negou o Nobel, assim como Ravel negou a Legião de Honra. E Drummond nunca aceitou candidatar-se à Academia Brasileira de Letras. Mas o que intriga e instiga mesmo é a reflexão do sempre debochado Erik Satie: "Ravel recusou a Legião de Honra, mas toda a sua obra a aceita. Não basta recusar a Legião de Honra, o essencial é fazer de tudo para não merecê-la". São exemplos de vitalidade e insubordinação necessários. Porém, na situação em que nos encontramos atualmente, de visível perda de vigor nas artes como no esporte, celebrei o Globo de Ouro de Fernanda Torres e torço para que a atriz ganhe o Oscar. Não é simplesmente que ela merece, é principalmente porque estamos precisando.

Diz a lenda que certa vez Charles Chaplin inscreveu-se num concurso de Carlitos. Resultado: tirou o terceiro lugar. Se Fernandinha não ganhar o Oscar, saibamos nós que ela é a verdadeira ganhadora. E eu nem sei quem são as outras.