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Sábado, 28 de dezembro de 2024

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Salvador: cidade da música ou da poluição sonora?

Salvador: cidade da música ou da poluição sonora?

Esses dias vi dois caras saindo da praia com uma caixa JBL do tamanho de um trem

Salvador: cidade da música ou da poluição sonora?

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 27 de dezembro de 2024 às 06:51

Está aberta a temporada de caça... ou melhor, está oficialmente inaugurado o verão de Salvador. Como se precisasse. Mas, o fato é que, apesar de o clima ser parecido o ano inteiro, a cidade espera o verão. Proclamada "Cidade da Música" pela Unesco em 2016, nesta época Salvador parece exercitar sua vocação de forma ainda mais potente. Para mim, porém, fica uma certa dúvida: qual é exatamente essa vocação? Claro que temos um potencial musical enorme, com um talento em cada esquina. Mas uma "cidade da música", por definição, saberia gerir melhor a atividade musical, por exemplo, pagando direitos autorais e reconhecendo o valor dos compositores. Coisa que Salvador não faz, nas mais variadas instâncias. Nem sempre nos atentamos ao óbvio, mas música é a combinação de som e silêncio. E, por outro lado, é impossível encontrar um cantinho silencioso em Salvador, especialmente no verão.

Eis a pergunta que faço: Salvador é a cidade da música ou da poluição sonora? No porto da Barra, mais do que coolers, pranchas ou cangas, o acessório predominante são as famigeradas caixinhas de som. Assim também em Patamares ou na Boa Viagem. E como todo mundo é o DJ de si mesmo, a cacofonia é infernal. Em certos bares, o tal som ambiente é tão alto que não dá para conversar no ambiente. Nem sequer para ouvir o garçom. Na porta de casa, de repente, para um desgraçado e abre o porta malas libertando dali todos os demônios do inferno. E assim por diante. Agora, vejam, na Concha Acústica do TCA, local propício para apreciação de música, essas mesmas pessoas passam metade do show conversando outra metade mexendo no celular. Repito: cidade da música?

Esses dias vi dois caras saindo da praia com uma caixa JBL do tamanho de um trem. Se fosse um desfibrilador, urgente para salvar a vida de uma velhinha na areia, aposto que eles não levariam, alegando ser pesado demais. E o mais chocante: 95% das playlists só toca neo-sertanejo de Goiás. Ou pagodão "vou brocar sua xerec*". Enquanto isso, permanece sem sinalização a casa onde viveu Dorival Caymmi na Ladeira do Carmo. Bem vindos à cidade da música.