Artigos
Cidadania precária e usurpação do espaço público
Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Sim, é preciso limitar a quantidade de cadeiras de aluguel, mas talvez o número atual seja realmente pequeno
Foto: Reprodução
Essa semana, barraqueiros sem barraca do Porto da Barra fizeram um protesto contra a medida da prefeitura de limitar para 10 sombreiros e 30 cadeiras a ocupação que cada um deles pode efetuar na areia da praia. Na terça-feira (28), a beira do mar ficou sem a prestação do serviço. Tudo começou com a viralização do vídeo onde um turista de Brasília reclama da "privatização" da praia pelos comerciantes, que, segundo ele, não deixam espaço para estender sequer uma toalha ou uma canga. Frequento bastante o Porto e acompanho essa treta de perto. Do meu ponto de vista, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Sim, é preciso limitar a quantidade de cadeiras de aluguel, mas talvez o número atual seja realmente pequeno. Isso porquê, como quase tudo aqui, a medida foi feita "nas coxas", para responder ao bate-boca virtual. De qualquer forma, se servir para organizar um pouco melhor a nossa praia, ótimo.
Da discussão completa, o que me fica como saldo é perceber o quanto a nossa cidadania precária favorece à usurpação do espaço público, tanto por cima como por baixo. Por exemplo: os camarotes do carnaval já estão ocupando a área pública há mais de um mês da festa. E permanecerão como donas da rua muito depois que ela acabar — é a usurpação por cima. Por baixo, não são apenas os barraqueiros que alegam necessidade para sentirem-se donos da praia. Guardadores de carro fazem o mesmo com a rua. Um sujeito elege um pedaço da via pública e passa a cobrar pedágio para se estacionar naquela vaga que ele diz lhe pertencer. Cobra antecipado, inclusive. E ai de quem não pagar. É a usurpação por baixo.
No meio, espremido, fica o cidadão comum, geralmente pobre, que é quem sempre paga o pato. Afinal, na suposta revolução social implantada (com altos e baixos) no Brasil das última décadas, quem tem dinheiro mesmo permanece imune até na carga tributária.
📲 Clique aqui para fazer parte do novo canal da Metropole no WhatsApp.