Deportação e maus tratos
O Brasil bradou contra os maus tratos e está certo, mas falha ao não ter nenhum protocolo para acolher cidadãos do próprio país
Foto: Reprodução
Um dos principais motes do segundo mandato de Donald Trump é a deportação em massa dos imigrantes que estiverem nos Estados Unidos em situação ilegal, uma das promessas mais fáceis de cumprir. No Brasil, o assunto se tornou manchete pelas condições como chegaram os primeiros deportados sob Trump: em um avião militar com problemas técnicos, forçado a fazer três pousos não previstos para reparo, o último em Manaus, ao invés do desembarque direto no Aeroporto de Confins, na Grande Belo Horizonte, já que a maioria era de mineiros.
Diante de um quase levante dos brasileiros quando o avião pousou em Manaus para reparos, entre eles a falta de refrigeração que causara desmaios e dificuldade de respiração nos passageiros, o governo brasileiro interveio para a retirada das algemas, o desembarque e reembarque para Confins em um avião da FAB. Os deportados não comeram, não havia refrigeração na aeronave, muitos passaram mal e foram agredidos fisicamente. E aqui é preciso estabelecer o que é novo e o que é comum nas deportações de ilegais feitas pelos Estados Unidos.
Algemas e correntes, contam os próprios brasileiros deportados em governos americanos anteriores, são normas aplicadas nessas viagens. O elemento que parece ser inédito são os maus tratos, como falta de comida, água, proibição de ir ao banheiro e agressões físicas. Além disso, os dados são públicos: de George Bush até este mandato de Trump, o presidente que mais deportou imigrantes foi Barack Obama, tido como o mais boa praça pelos progressistas do mundo. A diferença, com Trump, é o destaque à medida como política pública marca da gestão e a escala como deve se dar.
Café e rosas
A reação do Brasil aos maus tratos dos seus cidadãos no primeiro voo de repatriação começou barulhenta, com anúncios de cobranças de explicação à diplomacia dos Estados Unidos. Simultaneamente, a crise gerada com a Colômbia ofuscou o barulho brasileiro. O presidente colombiano, Gustavo Petro, se recusou a receber aviões dos Estados Unidos com cidadãos do seu país. Fez uma carta literária reativa, emoldurada e edulcorada pela esquerda do mundo como um exemplo de resistência ao imperialismo yankee, bem anos 70.
O react não durou um dia. Grande fornecedor de rosas e café para os americanos, o país voltou atrás ao saber que as flores e o café seriam sobretaxados na exportação e nenhum colombiano teria visto para entrar nos Estados Unidos. O Brasil bradou contra os maus tratos e está certo, mas falha ao não ter nenhum protocolo para acolher cidadãos do próprio país nesses casos, enquanto se orgulha tanto de ter um dos melhores programas de acolhimento de refugiados do mundo. Outra contradição é a Colômbia se recusar a receber seus próprios cidadãos, colocando como opção que todos voltem aos EUA, para a cadeia, em condições degradantes.
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