Os chineses e o horror na Bahia
Gente com membros amputados por trabalhar sem nenhum equipamento de proteção individual vivendo sem higiene e com jornadas extenuantes, superiores a 12 horas, e com privação do sono
Foto: Reprodução
O governo baiano tem nas mãos um problema e tanto. A vinda da BYD para Camaçari, ocupando o vácuo deixado pelo fechamento da Ford, foi e continua sendo comemorada pelos efeitos que automaticamente provoca na economia do estado. A abertura de cerca de 10 mil vagas de emprego a partir de 2025 na fábrica veio com um problema difícil de contornar: tornar a mão de obra chinesa adequada à legislação trabalhista diante do abismo cultural sobre os limites da exploração profissional.
Quem acompanha o crescimento da economia chinesa sabe o abismo entre as exigências nacionais brasileiras no mundo do trabalho e como a banda toca no comportamento dos chineses nas relações profissionais. A operação recente envolvendo Ministério Público estadual e federal, o Ministério do Trabalho e as polícias Federal e Rodoviária revelou o horror encontrado em detalhes. Funcionários de uma empresa chinesa terceirizada contratada pela montadora para as obras de construção do novo parque industrial, a construtora Jinjiang, foram encontrados submetidos a condições de trabalho que a palavra degradante é insuficiente para defini-las.
Membros amputados
Gente com membros amputados por trabalhar sem nenhum equipamento de proteção individual, sem alimentar-se direito, morando em espaços insalubres e sob calor insuportável, dormindo sem colchão, vivendo sem higiene e com jornadas extenuantes, superiores a 12 horas, e com privação do sono a ponto de comprometer o estado de consciência e alerta durante o trabalho.
As manchetes dos jornais, em geral, descreviam o estado de coisas mais ou menos nesses termos: ‘Operação resgata 163 operários chineses da escravidão em obras da BYD na Bahia’. De cara, já se estabelece um impasse difícil de transpor: levar os empresários chineses e os responsáveis pela hierarquia no trabalho a compreender o sentido de “libertar da escravidão”. Na rotina trabalhista dos chineses, cenas criminosas como as encontradas nas obras do parque pelos fiscais e inadmissíveis na legislação brasileira são tidas se não como adequadas, mas permissíveis em seu país. E com o começo da construção da ponte Salvador-Itaparica, seremos apresentados a mais horrores.
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