Francisquinho atira dinheiro pela janela
O dinheiro que falta para criança estudar, ter três refeições por dia e fugir da sina de se tornar mão de obra letal do tráfico aparece nas imagens transformado em barcos de luxo, aeronaves, joias, bolsas
Foto: Reprodução
Não se sabe qual será o destino policial e judicial de Francisco Nascimento, conhecido como Francisquinho, vereador de Campo Formoso (BA) pelo União Brasil, primo do deputado Elmar Nascimento e preso na terça-feira na Operação Overclean, junto com muito mais gente. Independentemente do que acontecer quando sua banca cara de advogados entrar em cena, o óbvio já está calcificado na crônica política baiana e nacional: Francisquinho arremessando pela janela uma sacola com R$ 220 mil.
Para sempre, Francisquinho será apontado como o vereador que, diante da chegada da Polícia Federal para prendê-lo, atirou dinheiro pela janela, para desfazer-se da materialidade da sua abnegação. Em 2024, com aplicações financeiras das mais básicas às mais arriscadas disponíveis, é pouco crível qualquer argumento de alguém procurado pela Polícia que mantém em casa sacolas de dinheiro. Assim como o sobrinho do deputado, um servidor da Secretaria de Educação de Salvador, também preso, tinha o mesmo tipo insólito de apego a cédulas: mantinha em casa R$ 700 mil em espécie.
Letramento e rei do lixo
Um empresário com costas largas e amigos poderosos, conhecido como “rei do lixo”, também foi levado pela Polícia Federal de um dos CEPs mais valorizados de Salvador. Outro vereador, de Nazaré das Farinhas, mas com esquemas milionários na gestão municipal de Lauro de Freitas, fez companhia à trupe. Juntos, montaram esquemas de desvio de recursos públicos de quase um bilhão e meio. Como panorama de fundo, a farra de emendas que nos últimos anos tem feito a festa de parlamentares, à direita e à esquerda. Como ofensa ao contribuinte, a ostentação com que os presos levavam a vida. As fotografias dos bens de luxo apreendidos confirmam que nenhum otimismo nesse país faz sentido.
O dinheiro que falta para criança estudar, ter três refeições por dia e fugir da sina de se tornar mão de obra letal do tráfico aparece nas imagens transformado em barcos de luxo, aeronaves, joias das principais grifes nacionais e internacionais, bolsas que, por unidade, valem mais que anos de trabalho de quem ganha um salário-mínimo e imóveis de alto padrão. É tudo pornográfico, um letramento, para usar uma palavra da moda, do modo brasileiro de fazer política eleitoral. Mas a caricatura maior é um vereador do interior arremessando um sacola de cédulas pela janela.
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