A polícia que arremessa gente
Usar os índices de violência urbana como argumento para atitudes policiais como essas é naturalizar a barbárie
Foto: Reprodução
Como não temos a opção de lidar com ressurreição, nos apeguemos à expectativa de punição. E sem otimismo. Na terça-feira, 03 de dezembro, quatro episódios policiais que vieram à tona na véspera davam a medida do escalonamento da violência policial brasileira. Em Salvador, no Alto de Ondina, a parte pobre do quintal do Palácio de Ondina, residência oficial do governador do Estado, uma execução com 12 tiros. Não é suposição: são as evidência do fato registrado por câmeras. Um policial militar, ‘em um carro de luxo’, sem farda, portanto fora do contexto de trabalho, faz 12 disparos à queima-roupa em um garoto do bairro, de 17 anos, deitado no chão, desarmado.
Em São Paulo, policiais militares fardados, com a maior naturalidade do mundo, seguram um homem, também desarmado, e o arremessam de cima de uma ponte. Também em São Paulo, um homem sai correndo de um supermercado levando quatro produtos de limpeza furtados. Na porta, escorrega num papelão e cai. Um policial de folga, e que naquele instante pagava uma compra no caixa, saca a arma do moletom e executa o homem, com 12 tiros nas costas.
Tiro em criança
Em Itanhém, litoral paulista, um policial aposentado entra numa rua, à noite, onde várias crianças brincavam, com o carro em velocidade acima do normal e com faróis apagados. As crianças gritam avisando o motorista para ligar os faróis. O homem responde com tiros. Desce do carro e dispara vários tiros contra as crianças. Por sorte nenhuma foi baleada, o que em nada diminui a atitude de violência e o potencial de letalidade do gesto.
Sim, o Brasil está mergulhado em índices de violência urbana desesperadores. Capitais e cidades médias e pequenas tomadas por facções. Arrastões em ruas, bares, festas, prédios. Mas usar esses índices como argumento para atitudes policiais como essas é naturalizar a barbárie. Não é tolerável que as respostas policiais ao que quer que venha do banditismo sejam semelhantes aos atos dos criminosos. Ninguém espera nada de bandido que não seja violência, e esperarmos o mesmo de policiais equivale a admitir que o Estado tem licença para ser delinquente e que desistimos da civilização, da justiça e de qualquer fé na gestão pública. Arremessar pessoas de pontes, atirar contra crianças e executar gente desarmada com dúzias de tiros é o fim da vida em sociedade.
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