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A polícia que faz bico
Inicialmente a polícia os enquadra como testemunhas e se diz oficialmente constrangida. Não apenas por integrantes da PM fazerem bicos, mas pela natureza do bico
Foto: Reprodução
Coisa rara é uma empresa de segurança, dessas contratadas para fazer segurança pessoal de quem precisa e pode pagar ou para fazer segurança patrimonial, que não tenha em seus quadros majoritariamente policiais da ativa, remunerados pelo Estado para fazer a segurança da população. É imenso o contingente que faz bico. E ainda algo mais significativo: deve ser praticamente impossível que a quase totalidade dessas empresas não tenham como sócios policiais.
No país das jabuticabas, a gente se acostuma às exceções e não estranha que tantos policiais militares façam bicos nas horas vagas ou nem tanto, vendendo segurança privada. Falar disso é atrair a ira de quem alega a baixa remuneração, a atividade pública com maior exposição a riscos letais. Até que um dia um fato nacional de grande repercussão explode, gabaritando as exceções todas. Como assim, oito policiais militares de São Paulo atuavam, simultaneamente às suas atividades públicas, oferecendo segurança privada a um criminoso e réu confesso, metido até a medula com o PCC?
Execução, Salvador e pipoca
A execução de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, não expôs só a ousadia do crime organizado, mas o nível de envolvimento da Polícia Militar de São Paulo com criminosos. Delator do PCC e acusador de roubo de bens e dinheiro seus por policiais civis, Gritzbach foi recepcionado no desembarque com cerca de 30 tiros de fuzil, dos quais 10 o acertaram, na cabeça e no peito.
Na terça-feira posterior ao crime, oito policiais haviam sido afastados da corporação por trabalharem para o morto. Inicialmente a polícia os enquadra como testemunhas e se diz oficialmente constrangida. Não apenas por integrantes da PM fazerem bicos, mas pela natureza do bico. Como não temos direito ao assombro, melhor consolar- -se com a pipoca. E como livre imaginação é de graça, façamos perguntas aleatórias, mas interessantes: qual seria o teor da cobertura se algo parecido acontecesse no Aeroporto de Salvador, no atual cenário da segurança pública baiana? E de quem eram as joias de milhões, trazidas de Maceió ilegalmente pelo morto?
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