O lodo da jogatina no Brasil
Se o jogo for instituído agora, a pretexto de regulamentação e vigilância, nunca mais deixará de existir no Brasil
Foto: Reprodução
Até um ex-general reformado, que presidiu o Hotel Caesars Palace, em Las Vegas, veio ao Brasil fazer lobby para o jogo. Era ditadura ainda e ele foi muito bem recebido e festejado por deputados e pelo governo. Para começar a aprovação dessa liberdade da jogatina, absurda e injustificável, da qual o Brasil não tinha a menor necessidade, não passou ao Congresso por uma questão de concordância com a utilidade dessa liberação. Passou porque o lobby do jogo vinha há anos e anos tentando.
Acho que o presidente Lula está completamente equivocado, o que acontece raramente com ele, quando acha que regulamentando vamos exercer uma vigilância segura para que não haja envolvimento de crianças na jogatina, para que não haja exploração de bebedores e por aí fora. Nós estamos no Brasil. Não há nenhuma fiscalização no Brasil, em nenhum setor. Começo pela Receita Federal e desço até todas as polícias, não há nenhuma que funcione bem. E não pode funcionar bem, porque o defeito é estrutural.
A própria segurança pública, individual ou coletiva é um fracasso no Brasil em termos de vigilância, de polícia, de providências que assegurem aos cidadãos o direito de ir e vir nas ruas do Rio de Janeiro, ou de estar na sua casa, ou de fazer um transplante e não correr o risco de ser contaminado por HIV, porque não há fiscalização decente nem para coisas de extrema importância, como a sobrevivência íntegra de um transplantado. Nem isso. Vai haver fiscalização para jogo? Quem é que vai fazer? Quem vai comandar num país desse tamanho?
Se o jogo for instituído agora, a pretexto de que está regulamentado e haverá uma vigilância, nunca mais o jogo deixará de existir no Brasil. A força do lobby, do vício, do funcionamento desse lodo que sustenta esse tipo de atividade em vários países dominará a situação, afinal, vai conseguir voltar ao predomínio quanto a esse aspecto da vida social. Ninguém mais o retirará, até por interesse. A força do dinheiro ainda é a maior força no Brasil.
* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras
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