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Quinta-feira, 31 de outubro de 2024

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A esquerda, a direita e os pobres

A esquerda, a direita e os pobres

Não foram os crentes, evangélicos ou neopentecostais o ponto de inflexão que se impôs na campanha eleitoral

A esquerda, a direita e os pobres

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 24 de outubro de 2024 às 00:42

Um tema quase obsessivo no debate político brasileiro tem sido o voto dos evangélicos. O que querem e como votam as diversas denominações crentes do Brasil, que no futuro, dizem as pesquisas, superarão os católicos? A cada eleição, multiplica-se a quantidade de matérias jornalísticas, de livros, pesquisas acadêmicas e de sondagem de voto, podcasts e debates sobre o assunto. 

Mas não foram os crentes, evangélicos ou neopentecostais o ponto de inflexão que se impôs na campanha eleitoral, uma eleição praticamente nacionalizada como discussão, graças ao efeito Pablo Marçal. Foram os pobres. O resultado do primeiro turno das eleições e a queda do número de prefeitos eleitos por partidos à esquerda consolidou os pobres, e não a pobreza, como tema prioritário de quem tem pretensões eleitorais.  

Casca de bala

A cada vez que as próprias lideranças, e, principalmente, os intelectuais brasileiros progressistas, tentam explicar a crescente preferência desse eleitorado pela direita e por discursos conservadores, parece que só pioram essa comunicação. A sociedade mudou, o mercado de trabalho como era desapareceu e, na periferia, as facções de tráfico tocam o terror, diante de uma população que se sente desamparada.

Dizer que os pobres são burros, bastardos e que se deixam manipular por partidos e pastores desonestos, e esquecer que, por outro lado, poucas ou nenhuma liderança de esquerda pisam o solo cheio de cascas de bala dos bairros onde elas moram, tem sido combustível para mais afastamento que aproximação. Nas eleições presidenciais em 2018, Mano Brown cantava a pedra, diagnosticando a incapacidade da esquerda de se comunicar com a periferia. De lá para cá, a esquerda parece ter se concentrado na classe média e na agenda de racismo, meio ambiente e gênero. À deriva, os desvalidos da periferia procuraram um templo, uma liderança à direita e até um coach de quem ouvir algo. E parece que encontraram.