Um espetáculo da chantagem

Mais um pepino na semana passada. A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou o andamento de duas Propostas de Emenda à Constituição (PEC) contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Uma delas trata das decisões monocráticas - ou seja, tomadas por um só ministro. Segundo essa PEC, só o presidente do Supremo poderia tomar uma decisão monocrática - e, mesmo assim, em casos urgentes ou de perigo de dano irreparável, e em 30 dias o Congresso teria que examinar. A segunda PEC é a mais grave. Ela dá ao Congresso o poder de suspender as decisões do STF. É uma aberração dos que insistem no golpismo. Por golpe, inclusive, é que vários desses que votaram a favor na CCJ estão respondendo no Supremo Tribunal Federal.

Isso é chantagem porque o Supremo Tribunal determinou a investigação dessa ladroagem chamada Orçamento Secreto. Nesta investigação, inescapavelmente estarão muitos desses parlamentares. O Orçamento Secreto é um sofisticado substituto do caixa dois. É a corrupção oficializada. Coisa estimada em R$ 94 bilhões desde 2020.

Ao menos 111 deputados federais (ou seja 1/5 da Câmara dos Deputados) têm algo a responder na Justiça Criminal. O PL, de Waldemar da Costa Neto e Jair Bolsonaro, por exemplo, tem, pelo menos, 30 dos seus 95 deputados com pendências judiciais. E 13 deles com pendências exatamente no STF. Cinco respondendo ao inquérito das fake news e outros pelo 8 de Janeiro.

Vejam só o elenco que responde STF: Carla Zambelli; Eduardo Bolsonaro; Bia Kicis; Caroline de Toni, que é justamente a presidente da CCJ; Nikolas Ferreira; Alexandre Ramagem; Éder Mauro; Gustavo Gayer; Mário Frias; Marco Feliciano; Ricardo Sales. É a fina flor da extrema direita que está metida nessa picaretagem da CCJ. O Supremo e os outros tribunais deveriam acelerar os processos sobre parlamentares. Inocentar quem é inocente e culpar quem é culpado. Se não, fica essa chantagem que é profundamente deseducativa. É um espetáculo público de chantagem feita por essa mesma gente em relação ao governo, a cada votação importante no congresso, e chantagem agora em relação ao Supremo.

* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras