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Bolsa Família vai de bet

Bolsa Família vai de bet

Como o país vai deter o poder das bets de sugar dinheiro de quem já não o tem, o desafio está posto

Bolsa Família vai de bet

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 03 de outubro de 2024 às 00:24

Depois de se tornarem boom publicitário em todas as plataformas de mídia no Brasil, as apostas esportivas do tipo bets chegam ao final de 2024 transformadas em caso de polícia. A prisão da influencer ‘Doutora’ Deolane e anúncio de prisão, depois revogada, do cantor sertanejo Gusttavo Lima deram o pontapé master para que as bets entrassem para a agenda jornalística por múltiplas portas. 

No Congresso Nacional, no Ministério da Fazenda, na Polícia Federal, no futebol, na publicidade, no universo jurídico, nas delegacias de polícia, nas contas de Instagram de rifeiros, influencers e até de atletas olímpicos de ouro, as bets dão o tom da cobertura jornalística. A ostentação dos donos das empresas e de seus garotos-propaganda contradiz com os índices alarmantes de endividamento de gente muito pobre. O cruzamento dos CPFs de beneficiários do Bolsa Família e o volume de apostas feitas dispararam alertas vermelhos no governo, com uma polêmica secundária ganhando corpo nos últimos dias. 

Somente no mês de agosto deste ano, foram transferidos R$ 3 bilhões, via pix, das contas cujos CPFs são de beneficiários do Bolsa Família, para empresas de apostas do tipo bet. Os dados são do Banco Central e levaram o governo a começar a discutir alternativas para vetar as apostas por esse grupo de pessoas, causando controvérsia sobre o direito que o poder publico deve ou não ter de determinar como os beneficiários de políticas públicas podem gastar o dinheiro que recebem do governo via programas de transferência de renda. 

Atleta olímpico e tráfico

De endividamento, desvio dos recursos de alimentação e sobrevivência para apostas em jogos de azar, o debate passou a ser sobre a intromissão do governo na vida dos pobres, tutelando-os, dizendo-lhes sobre como se comportar. Mas não é só o poder publico que quer criar mecanismos para deter o poder das bets de garrotear a renda já escassa dos pobres para as apostas. Entidades do comércio varejista, do segmento de supermercados e outros braços da área de alimentos têm divulgado documentos públicos exigindo do poder público medidas de contenção do endividamento familiar.

O dinheiro que, em tese, deveria ir para o consumo de alimentos, está indo para as apostas, reduzindo a venda de gêneros da cesta básica. Como o país vai deter o poder das bets de sugar dinheiro de quem já não o tem, o desfio está posto. Limitar a publicidade parece ser um ponto de partida mínimo. Que um atleta olímpico apareça na TV anunciando bets, um segmento associado até ao tráfico de drogas e à contravenção, é inacreditável.