Poesia completa de Décio Pignatari é antídoto contra “brain rot”

A editora Companhia das Letras anunciou o lançamento e já abriu a pré- -venda do livro “Poesia Pois É Poesia”, que reúne toda a obra poética de Décio Pignatari (1927-2012), um dos criadores da poesia concreta e dos pensadores mais agudos da cultura brasileira. Incluindo criações emblemáticas como “Beba Coca-Cola”, “LIFE” e “organismo”, o livro traz também o primeiro volume de poemas publicado por Décio, “O Carrossel” (1950) e inclui alguns que não saíram nas edições anteriores, como “Noosfera” e “Oswald psicografado por Signatari” (este publicado originalmente na revista baiana Código, em 1981, editada por Erthos Albino de Souza). Além de capa e prefácio de Augusto de Campos, o último remanescente do grupo Noigandres. Por essas e outras, a notícia foi recebida com grande entusiasmo nos meios literários. “Imagino seja o principal lançamento de poesia de 2024 no Brasil”, declarou Régis Bonvicino. “Agora vou ter, finalmente, meu exemplar tão aguardado!”, celebrou Susanna Busato.

E é por aí mesmo. No ano em que o Dicionário Oxford escolheu “brain rot” (cérebro podre) como palavra-chave, derivação principalmente do consumo excessivo de informações e conteúdos pouco desafiadores nos meios digitais, a publicação da poesia “medula e osso” do sujeito que tanto batizou como combateu a “geleia geral brasileira” (ora aparentemente alçada em escala global) é um forte e necessário antídoto. Em Décio, não é possível sair rolando passivamente a barra nem ir passando impunemente as páginas. Tudo exige esforço, concentração, repertório. Dono de uma personalidade pouco afeita às gracinhas que fazem sucesso nas redes como na política (mesmo a literária), DP retornar na editora mais popular do país deve servir de alento frente ao nosso galopante apodrecimento cultural e, ainda, provar que o “arco tenso” é mais difícil de se partir do que julga a nossa vã idiotia.