Mercado Modelo: de Bar do Xacrinha ao S9

A reforma do Mercado Modelo foi entregue pela Prefeitura de Salvador em dezembro do ano passado. Estive lá e parabenizei o secretário Pedro Tourinho pela iniciativa. E continuo parabenizando. Porém, uma coisa me causou estranheza já ali: a fachada do meu bar preferido, o do Xacrinha (recomendo o pastel de siri catado), teve o nome substituído por um código: S9 ao S11. Assim também os outros bares, despersonalizados em favor de uma identificação burocrática de livro de ponto. Bom, dei o benefício da dúvida e torci para que fosse provisório. Agora, passado quase um ano, me conformo, entristecido, que não é, e protesto contra a nova identidade dos estabelecimentos mais que comerciais, culturais, do Mercado Modelo. Qual o sentido? Alguém realmente acredita que é melhor, mais turístico, mais prático, trocar os nomes das lojas e bares por números frios? Já basta que as paredes foram pintadas de cinza.

Com sabedoria e simplicidade, o barbeiro Jorge, instalado no ali há 35 anos, definiu: “Perdeu a graça”. E completou: “Os turistas vêm aqui para ver o que é nosso, o que é antigo. Essa boniteza aí na terra deles tem muito melhor”. Na próxima reforma, voto nele para ganhar a licitação. Os engenheiros e arquitetos estão com a cabeça onde? E ninguém venha me acusar de querer folclorizar baianidade nem de inimigo do moderno. Sou o oposto. E, por falar nisso, pseudo-modernizaram as fachadas da loja, com assepsia, mas não colocaram wi-fi no Mercado. É mole?

A reforma trouxe, entre outras coisas, uma galeria de arte para o local. Então, por que não convocar os artistas para bolarem novas fachadas para os bares, em consonância com os comerciantes? No meio cultural, embora nem todos tenham coragem de dizer em voz alta, é praticamente unânime que a gestão da prefeitura é muito superior à do governo do estado. Porém, a maior parte das reformas feitas recentemente carece de consciência cultural. Salvador não é qualquer cidade e não pode nem deve ser desfigurada