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Quinta-feira, 26 de setembro de 2024

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Sexta-feira 13 e o azar de Arnold Schoenberg

Sexta-feira 13 e o azar de Arnold Schoenberg

Schoenberg não será celebrado no Brasil. No final dos anos 1970 e início dos 1980, seu Pierrô Lunar chegou aos ouvidos tupiniquins

Sexta-feira 13 e o azar de Arnold Schoenberg

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 12 de setembro de 2024 às 00:16

Amanhã é sexta-feira 13. Casualmente (ou não) é também o dia em que se completam 150 anos do nascimento de Arnold Schoenberg. Conta-se que, no alistamento militar para a primeira guerra mundial, o oficial perguntou: “O senhor é o compositor Arnold Schoenberg?”. E ele respondeu: “Alguém tinha de sê-lo e como ninguém quisesse ser, eu resolvi assumir esse encargo”. Dia do azar. Não deve ter sido fácil estar na pele do músico mais influente do Século 20 (junto com Igor Stravinsky), pai do dodecafonismo, mestre de mestres como Anton Webern e Alban Berg e, ao mesmo tempo, praticamente um desconhecido. Talvez por isso aquela veia sempre parecendo prestes a estourar que vemos em sua têmpora nas fotografias e até nas pinturas. Azarada essa tal de música contemporânea, ou música de invenção ou de vanguarda, aparentemente fadada a ser ouvida apenas por uma meia de dúzia.

Schoenberg não será celebrado no Brasil. No final dos anos 1970 e início dos 1980, seu Pierrô Lunar chegou aos ouvidos tupiniquins em uma versão caprichada do poeta Augusto de Campos, sob regência do maestro Ronaldo Bologna, com a soprano Edmar Ferretti mandando ver no “sprechgesang”: cantofalado, espécie de pré-rap em que declamação e cantoria se equilibram, num limiar muito sutil. Porém, estamos andando para trás nesse métier, tendo o volume dedicado a esta obra, na excelente coleção de discos da editora Abril, sido retirado da segunda edição. E pensar que a música dodecafônica já chegou a ganhar até uma série natalina, no longínquo e revolucionário 1967, mesmo ano do tropicalismo: The Twelve Tones of Christmas.

Agora, li que o maestro da Osba pretende dar “uma bofetada” na cara da sociedade baiana com um concerto de músicas de Belchior. Como se a elite local botasse o fraque e o pincenê e fosse para o teatro crente que ouvirá high culture. Ora, isso já acabou há muito tempo. E nossa suposta intelligentsia tem um repertório musical formado na Globo FM. Parece tropicalismo, mas não é. Enquanto ele julga estar em 67, o semi-inaudito e maldito Schoenberg permanece esbofeteando a mediocridade com seu desafio, inassimilado até mesmo por colegas. Ou supostos. Ouvi-lo às vezes, sim, seria ousado.

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