Uma campanha vendendo fumaça
O jogo é trabalhar a imagem para impor um tipo de conteúdo e desviar do assunto principal nos debates
Foto: Reprodução
Sobre as campanhas e propagandas eleitorais, uma coisa é a forma e outra coisa é o conteúdo. Marçal não está vendendo conteúdo. Na verdade, o que ele está usando é a linguagem dele para combater quem eventualmente queira discutir conteúdo. Assim, ele muda o assunto.
A discussão central até agora na eleição de São Paulo é a presença corporificada de uma facção criminosa em um partido, que eu chamo de sublegenda, que é o PRTB. O presidente da sigla, Leonardo Avalanche, foi gravado dizendo que trabalha para um certo Piauí, o segundo na hierarquia da facção. Esse deveria ser o debate até agora.
Mas o jogo é trabalhar a imagem para impor um tipo de conteúdo. Um amigo meu me ligou dizendo que encontrou com Pablo Marçal no aeroporto de Guarulhos e ele disse que iria encontrar Nayib Bukele, aquele populista de extrema direita, presidente de El Salvador.
Há uma razão, entendo eu, já que ele tem que ouvir o tempo todo nos debates essa relação com a facção criminosa. Ele foi tomar um banho na lojinha do Bukele, que tem a fama de ser o cara que prende bandido. Foi fazer cortes e cenas com o “maior prendedor de bandidos do mundo”. Foi com a intenção de criar essa cena para viralizar. E mesmo não viralizando ou até ele não indo, foi discutido o encontro dele com Bukele, eu, por exemplo, estou aqui discutindo.
Essa é a diferença entre a campanha de 2002 e a campanha de agora. Marçal trabalha vendendo fumaça. O sujeito que diz no debate que vai fazer um prédio de 1 km de altura em São Paulo. Independente se vai fazer ou não, todo mundo discute o tal do prédio. É um jogo tentando desviar do assunto que é fundamental: a corporificação de uma facção criminosa em um partido. Esse é o debate central da cidade mais rica da América Latina até agora.
A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras
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