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Quinta-feira, 29 de agosto de 2024

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A cobertura jornalística em looping

A cobertura jornalística em looping

Até outro dia, os jornalistas tinham no horizonte métodos mais claros para fazer seu trabalho

A cobertura jornalística em looping

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 29 de agosto de 2024 às 00:13

Alguns acontecimentos e as formas como ocorrem têm obrigado o jornalismo a fazer malabarismos para situar minimamente o leitor ou expectador diante do assunto. Dois casos da agenda semanal são puro suco desse desafio. As entrevistas de Pablo Marçal e a cobertura da prisão de um líder do tráfico transmitida por uma blogueira no bairro do Uruguai.

Até outro dia os jornalistas tinham no horizonte métodos mais claros para fazer seu trabalho. Nas primeiras linhas tinham que dar conta do lead, que consiste em responder essas perguntas: quem, o quê, quando, onde e por quê. No telejornalismo, de um bom entrevistador exigia-se basicamente a capacidade de fazer as melhores perguntas, encurralar o entrevistador e arrancar dele as melhores respostas.

Desarmar a bomba

Eis que chega Marçal, o coach-candidato em São Paulo, acostumado a convencer as pessoas a pagar por coisas que dificilmente receberão. Quem tiver acompanhado uma entrevista que seja, no circuito das obrigatoriedades dos veículos por conta das eleições, já aprendeu que não há pergunta difícil para ele. Não importa o que se pergunte. Nada o constrange. Não há o que ele não saiba responder. Ele dá um pulo nas perguntas e sai delas melhor que entrou: sendo trend topic e assunto em tudo o quanto é veículo ou rede. E ninguém sabe como desarmar a bomba. As tentativas até aqui só têm aumentado o poder explosivo.

No caso da prisão do traficante, a polícia se juntou à imprensa como refém da captura pelo fato. Ao invadir a casa onde um homem tentou usar a namorada e os filhos, a ação da polícia foi transmitida por ela, uma influencer com 50 mil seguidores. Para proteger os filhos, diz ela, ou para evitar que atirassem no namorado, dizem outros, ela começou a transmitir em live, invertendo a noticiabilidade. A notícia era a prisão de um traficante ou a transmissão de uma influencer? Já não importa. É tudo a mesma coisa, conteúdo em looping para entretenimento.