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Quinta-feira, 29 de agosto de 2024

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O coach e o fogo no parquinho

O coach e o fogo no parquinho

Na campanha pela prefeitura de São Paulo, a realidade ao redor não tem a menor importância e o jogo da disputa se dá em torno de um roteiro em que verdade e mentira se equivalem

O coach e o fogo no parquinho

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 22 de agosto de 2024 às 00:11

São Paulo, a capital, é, nesta eleição, a mais nítida ilustração do espetáculo nonsense em que se transformaram as disputas eleitorais no mundo. A realidade ao redor não tem a menor importância e o jogo da disputa se dá em torno de um roteiro em que verdade e mentira se equivalem. São exemplos disso as campanhas de Donald Trump e as estratégias construídas nas redes sociais e nos grupos de Telegram e WhatsApp para a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Agora, nas eleições municipais de 2024, o coach e milionário Pablo Marçal é o modelo desse novíssimo modo de fazer campanha. Os métodos foram aprimorados à enésima potência, com potencial de implodir a matrix do marketing político como funcionava até aqui. Aos 37 anos, completamente à vontade na persona que ativa, de boné, com os dedos das mãos em M e um repertório de provocação a tudo e todos, Marçal tem sido implacável.

Marçal é de tal modo incontrolável e domina tanto as estratégias de performance no ecossistema digital que, em duas semanas, implodiu não apenas o controle dos adversários, mas também o esforço da direita paulistana para fingir costume e normalidade com ele em cena. Desestabilizou até mesmo Jair Bolsonaro, que o vem chamando de mentiroso e lhe nega apoio. Outro efeito foi a recusa dos adversários Ricardo Nunes, José Luiz Datena e Guilherme Boulos em participar do terceiro debate com Marçal, em uma universidade privada em São Paulo.

Com a direita tonta e os adversários se recusando a estar onde ele estiver, o coach que parece saído de um episódio das primeiras temporadas de Black Mirror capitaliza essas reações transformando-as em mais desenvoltura. Depois disso já produziu peças anunciando em seus nichos o medo dos adversários de enfrentá-los. No jogo que se jogava até aqui no teatro das campanhas, Marçal é bomba que ninguém sabe como desarmar. Nem os observadores do seu campo ideológico estão à vontade. E engana-se quem acha que não falando do fenômeno ele se autodestruirá.