No futuro, todos teremos 15 minutos de privacidade?
Juro que eu nunca imaginei que para ter uma TV fosse obrigatório agora ter também um celular. E integrar um ao outro
Foto: Reprodução
Minha televisão quebrou. Como tenho um amigo técnico em consertador de televisão, o convoquei com a seguinte mensagem: “Meu TV quase novo quebrou, tela toda preta, não tem nem 5 anos, será que dá jeito?”. Ele me disse que era possível consertar, mas que, na verdade, 5 anos hoje em dia significa anciã, meu aparelho durou até demais, as mais atuais quebram com em média 2 anos e que a maioria parece programada para não ser consertada. Resumindo, que isso não é o mais importante, tive que comprar outra. Optei por uma da mesma marca. E, quando fui ligar, tomei um susto: a televisão nova pediu meu CPF, e-mail, pediu pra sincronizar um smartphone, impressão digital, autorização para ouvir minhas conversas e os cambaus. E quando eu digo “pediu” leia-se “exigiu”. Juro que eu nunca imaginei que para ter uma TV fosse obrigatório agora ter também um celular. E integrar um ao outro.
Pode parecer bobagem, mas a questão em jogo aqui é a seguinte: a privacidade acabou totalmente e para sempre. Daqui uns dias, até o liquidificador vai saber onde você comprou as frutas para o suco, quanto pagou, e oferecer propaganda de outro mercadinho. Lembro a primeira vez que usei o Word — aquele processador de texto da Microsoft. Na época, era apenas uma máquina de escrever digital. Hoje, não. Para usar o programa é preciso instalá-lo como aplicativo e, para isso, conectar seu e-mail. Ou seja, nada mais é offline. Até o que eu escrevo no segredo de meu computador, sem pretender publicar, está acessível a alguém. A gente já não compra nem um remédio para dor de barriga na farmácia sem que isso se converta em informação.
Não sou dado a teorias da conspiração, mas ninguém é ingênuo ao ponto de não saber que informação é uma das armas mais eficazes em tempos de guerra. E no mundo político. E o pior é que essas informações são fornecidas compulsoriamente a empresas cujas sedes e interesses nos são plenamente alheios e muitas vezes avessos. O YouTube já me ofereceu em anúncio geladeiras com IA. Ou seja, até o mais singelo copo d’água será monitorado daqui pra frente. Um amigo refez assim a famosa frase de Andy Warhol: "No futuro, todos terão 15 minutos de privacidade". Como se vê, um otimista!
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