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Propaganda que mata

Propaganda que mata

As médicas que ela diz representar, como atriz, são reais, desconhecem esses produtos estão sendo vítimas de fraudes

Propaganda que mata

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 25 de julho de 2024 às 00:00

Uma pessoa, seja ator ou garoto-propaganda cuja identidade o público desconhece, quando aceita fazer um anúncio em que, passando-se por médico, usando nome e registro no Conselho Regional de Medicina de outra pessoa, recomenda um produto de prescrição exclusiva de profissionais de saúde ou que pode trazer riscos, deve sofrer sanções por isso? Nas redes sociais, encontra- -se toda a sorte de publicidade em que atores, usando nomes reais de médicos, vendem produtos irregulares, inócuos ou que trazem risco de morte.

Fernanda Padilha é uma dessas atrizes. Na web, ela aparece identificando-se como várias médicas, tecendo elogios a tratamentos e produtos duvidosos, todos à venda. As denúncias de casos assim se multiplicaram após a morte de um homem durante um procedimento estético à base de fenol realizado por uma pessoa sem qualificação médica que se identificava como Dra. Natália Becker. Esta, nem atriz era.

Natália era uma espécie de esteticista de esquina, forjada à base de cursos on-line. Movida pela morte que ela causou, a imprensa tem noticiado inúmeros casos semelhantes e uma infinidade desses onde atores fingem ser médicos sem que os clientes sejam informados. O Fantástico compilou uma série de cortes de pseudos videocasts em que atrizes e atores aparecem cheios de títulos, especialidades e prêmios, em falsas entrevistas. Nas peças, gabam-se, como médicos, da eficácia de produtos e tratamentos jamais submetidos a regras legais, farmacológicas e sanitárias.

Os advogados da atriz Fernanda Padilha usam esta tese: sua cliente nada faz de condenável. Aceitou trabalhos como atriz e ‘apenas’ emprestou o rosto para representar profissionais reais. À revelia destes, diga-se. Se há erro, esse seria cometido exclusivamente por quem lucra com os produtos. O argumento não se sustenta de pé: as médicas que ela diz representar são reais, desconhecem os produtos e são vítimas de fraudes. E o consumidor não sabe, é enganado e pode morrer por isso.