Trump apresenta suas armas
A direita dos Estados Unidos que abraça Trump se alimenta exatamente do fracasso dos brancos pobres conservadores das regiões chamadas de cinturão da ferrugem
Foto: Reprodução
O tiro de fuzil que raspou a orelha de Donald Trump e atingiu a aorta do Partido Democrata, levando a campanha de Joe Biden a respirar por aparelhos, se juntou a um trunfo difícil de ser rebatido: a escolha do senador J. D. Vance para vice do Republicanos. Com apenas 39 anos e ex-crítico de Trump, Vence é a cara do self-made man que os Estados Unidos adoram.
O papel lhe cai tão bem que já há o livro e o filme que contam sua trajetória. A de um garoto de classe média que recusou o destino de fracasso escolar e financeiro que atingiu seus parentes de cidades industriais de Ohio, no Meio-Oeste do país. Autor de “Era uma vez um sonho”, o best-seller transformado em filme, J. D. Vance é, de tão bem sucedido, um paradoxo. A direita dos EUA que abraça Trump se alimenta exatamente do fracasso dos brancos pobres conservadores das regiões chamadas de cinturão da ferrugem, por representarem a decadência do sonho do industrial americano e do homem médio que um dia já pôde mudar de vida graças ao trabalho e à educação.
Os pobres e a bolha
O MAGA (Make America Great Again) mobiliza a reação dos brancos hoje condenados à pobreza. A tese deles é a de que não mais poderão ter o sonho de honrar a hipoteca da casa própria, bancar universidades de elite, ascender socialmente. A elite branca, rica e progressista é uma bolha que impede a entrada de outras classes. Sujeitos como Trump as convocam a reagir a isso, a votar em quem não veio dessa elite, expulsar os imigrantes do país e brigar por seu lugar. O que o trumpismo e a alt right, a nova direita, dizem é que só eles podem ajudar os pobres a furarem a bolha da elite.
Neste cenário, o paradoxo Vance está em sua própria trajetória. Ele é o homem que furou a bolha, cursou as universidades de Ohio e Yale, ingressou no Vale do Silício, elegeu-se senador e está a meio passo de se tornar vice e, logo após, presidente. Depois do tiro e da foto histórica de Trump, os democratas estão com problemas em casa. A debilidade de Biden, a rejeição a Kamala Harris e, agora, a biografia de Vance, são uma artilharia negativa em grau máximo para a campanha democrata.
📲 Clique aqui para fazer parte do novo canal da Metropole no WhatsApp.