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Barbárie no Congresso Nacional

Barbárie no Congresso Nacional

As mulheres precisam extrair desse momento duas observações. A primeira é a necessidade de uma presença feminina de qualidade no Congresso

Barbárie no Congresso Nacional

Foto: Reprodução

Por: metro1 no dia 27 de junho de 2024 às 00:03

Nesse episódio do PL do Estupro tudo é tão desatinado, tão estúpido, perverso e sem humanidade, que é difícil escolher um ponto de vista sem recorrer à religião. Porque essa variedade de estupidez deixa a gente perplexo, emudecido até. Precisar debater isso no século 21 já é de um primarismo, de uma ignorância, de uma perversidade, de tamanha má fé em relação às mulheres em relação, às crianças e à legislação de cada um dos países que ainda precisam discutir isso.

Não é só no Brasil. Os Estados Unidos - o país líder não só do Ocidente, do mundo, a grande potência, a grande nação militar, cultural, econômica e por aí afora - estão brigando com esse assunto. Alguns estados admitem o aborto, resolveram a questão por si. A Suprema Corte americana enfiou os pés pela boca nessa questão. Se de um lado alguns estados tiveram a seriedade exigida por um assunto dessa grandeza, o governo federal americano continua transitando na estupidez e na involução da racionalidade do respeito ao gênero feminino e do respeito aos pais honestos que de repente se veem diante de um problema sério quando se trata de um caso medicalmente aconselhado. Tudo isso por causa dessa onda toda de imputações de criminalidade.

É uma vergonha que ainda se tenha que aceitar que, no Congresso de um país de 200 milhões de seres humanos no século 21, algumas cabeças degeneradas proponham detenção de criança vítimas de estupro e a penalização de mulheres que tomaram alguma providência porque não desejavam engravidar e ainda assim foram engravidada por um pai que não desejavam. Tudo isso por uma proposta que se discute na Câmara de Deputados por indução do presidente desta Casa, o deputado alagoano Arthur Lira (PP).

Como sintetizar isso numa opinião. Talvez caiba a palavra barbaridade. A barbárie está imperando e se mostrando neste país, em todos os sentidos, no sentido de primarismo, estupidez, violência, crueldade, morte. São bárbaros esses feitos. No passado em muitos países a palavra Bárbaro significava estrangeiro. Eram os pretensiosos ocidentais que consideravam todos os demais povos como sem valor e usavam essa palavra. Com o tempo ela adquiriu o sentido que nós adotamos, de coisa primitiva, suja, violenta, cruel. E é isso que se passa no Congresso Brasileiro. É isso que está em discussão em tantos países entre os quais o país líder do planeta. E não há outra coisa senão assistir a esse espetáculo imoral, desumano, perverso e insolúvel.

Insolúvel porque a corrente religiosa representada pelos evangélicos com adesão espantosa da CNBB - tristemente espantosa quando no Vaticano está a lucidez Papa Francisco corrigindo vários outros despropósitos. Nos resta aguardar o desenvolvimento desse desatino, porque não estamos nos congressos. Vamos ver que isso simplesmente não tem solução, porque é um uma fronteira da religiosidade representada pelo pensamento dos chamados evangélicos ou de uma principal corrente deles. Agora é talvez esperar a “solução’, uma solução entre aspas, porque a verdadeira não virar.

As mulheres precisam extrair desse momento duas observações. A primeira é a seguinte: reparem como é necessária a presença feminina no Congresso. Dediquem-se mais a construir uma bancada feminina numerosa e de qualidade. O segundo ponto é a atenção exigida pela escolha daquele em quem será dado o voto. Isso está acontecendo por causa de votos dados a essas correntes retrógradas, impiedosas, cruéis. Elas estão no Congresso e impõem legislação. A participação que as mulheres tiveram agora nas ruas demonstra o quanto podem fazer. Sustaram, pelo menos provisoriamente, no Congresso o andamento desse projeto estúpido. As mulheres precisam enxergar também o significado da participação delas neste momento e nos momentos vindouros. Porque virão muitos ainda. Esse não é o primeiro, o Brasil está há séculos discutindo coisas importantes da maneira mais absurda, leviana, retrógrada e restritiva aos impulsos de progresso da civilização.

* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras