Chico Buarque: 80 anos do mestre das letras

Chico Buarque de Hollanda fez 80 anos ontem. O que dizer ainda sobre Chico Buarque? Melhor deixar que ele fale, Chico, com seus versos incomparáveis que nos formam a todos.

Quem que te mandou tomar conhaque

Com o ticket que te dei pro leite?

Quieta que eu quero ouvir Flamengo e River Plate!

Eu choro em iorubá, mas oro por Jesus

Pra que que vassuncê me tira a luz?

Amo tanto e, de tanto amar, acho que ela é bonita.

Mesmo que você fuja de mim por labirintos e alçapões

Saiba que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão.

Como se na desordem do armário embutido

Meu paletó enlaça o teu vestido

e o meu sapato ‘inda pisa no teu.

A saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto

Do filho que já morreu.

Quem sabe um dia, por descuido ou poesia, você goste de ficar?

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz 

Ao sentir que sem você eu passo bem demais.

Quem me vê sempre parado, distante, garante que eu não sei sambar. 

Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor!

Lá não tem moças douradas

Expostas, andam nus 

Pelas quebradas teus exus

Não tem turistas

Não sai fotos nas revistas

Lá tem Jesus

Está de costas.

O povaréu sonâmbulo ambulando que nem muamba nas ondas do mar.

Cidade maravilhosa, és minha

O poente na espinha das tuas montanhas

Quase arromba a retina de quem vê.

Aquela esperança de tudo se ajeitar, pode esquecer.

Aquela aliança você pode empenhar ou derreter.

O que é que eu posso contra o encanto

Desse amor que eu nego tanto, 

Evito tanto e que, no entanto,

Volta sempre a enfeitiçar?

Não se afobe não, que nada é pra já.