Moro, Brazão e a métrica imposta pela Lava Jato
A Lava Jato, como se deu, impôs uma métrica de que, em nome da causa, tudo pode
Foto: Reprodução
O ex-juiz e agora senador Sérgio Moro escapou na semana passada de ter seu mandato cassado em um julgamento do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR). Agora, ele tem um outro julgamento em vista, após a Corregedoria Nacional de Justiça apresentar um relatório apontando que ele, o ex-deputado Deltan Dallagnol e a juíza Gabriela Hardt desviaram cerca de R$ 2,5 bilhões do governo brasileiro para criar uma fundação para atender interesses privados. Gabriela Hardt já foi afastada na última segunda-feira (15) pelo corregedor-nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão. A ex-magistrada da Operação Lava Jato, que atuou como substituta do ex-juiz Sergio Moro na 13º em Curitiba, foi acusada de violar o princípio da impessoalidade.
Em 9 de abril, o Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Paraná decidiu que o senador Sergio Moro não deve perder o mandato. Por 5 votos a 2, ele foi absolvido das acusações de abuso de poder econômico, caixa 2, e uso indevido dos meios de comunicação na campanha eleitoral em 2022.
Era previsível, o Paraná é um clube fechado. Um professor, Ricardo Costa, da Universidade Federal do Paraná, fez um estudo sobre a origem familiar dos personagens da Lava Jato, promotores, procuradores, políticos, e boa parte vem do Arena. Eram procuradores, os pais, os avós, figuras centrais no Paraná nos anos da ditadura. É um clube fechado aquilo ali. Eu não tinha nenhuma expectativa positiva em relação ao julgamento que viesse lá do Paraná.
Quando for para o TSE agora [os autores da ação contra Moro ainda podem recorrer no Tribunal Superior Eleitoral], tem uma nova modificação, porque sai o Alexandre de Moraes da turma e entra André Mendonça. Então a coisa fica melhor para ele lá também. Mas, é um personagem que já está profundamente carimbado, independente do fato de manter ou não o seu mandato.
A Lava Jato, como se deu, impôs uma métrica. O que vimos no Congresso Nacional, com a votação apertada para manter a prisão Chiquinho Brazão, e o que temos visto pelo país nesses embates judiciários é a prova de que se impôs essa métrica de tudo pode, em nome da causa tudo vale. Se impôs uma forma de atuar que acostumou a opinião pública naquele bombardeio de anos, que tudo vale, e tudo o que importa é pegar o bandido. Desde que seja, como vimos no caso de Brazão, bandido do outro lado, quando é bandido deles não vale.
A Lava Jato foi muito ruim, porque era uma oportunidade extraordinária, estava tudo [como prova] nos computadores das empreiteiras, todo mundo, os prefeitos, os governadores. Era só chegar e dizer “olha, está todo mundo aqui, nós vamos começar pelo governo que é o governo, mas está tudo aqui”. Mas fizeram outra escolha e aquilo impôs uma métrica.
Os eventuais excessos e desajustes que a gente vê em relação, inclusive, ao funcionamento do Judiciário, tem a ver com o desequilíbrio que existiu a partir daquilo ali. Esse episódio da votação no caso do Chiquinho Brazão no Congresso é mais um capítulo de uma coisa que está fora do lugar há muito tempo.
*A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras
📲 Clique aqui para fazer parte do novo canal da Metropole no WhatsApp.