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Mosquito e falta de vacina no Carnaval

Mosquito e falta de vacina no Carnaval

Com o Carnaval já no play pleno, voltamos a ouvir reiteradamente expressões como emergência pública, calamidade, falta de vacinas, hospitais de campanha, etc

Mosquito e falta de vacina no Carnaval

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 08 de fevereiro de 2024 às 00:00

A memória é uma excelente editora de imagens e sensações. O que se passa na cabeça da maioria das pessoas que adoram Carnaval e ficaram sem a festa em 2021 e 2022 provavelmente são cenas borradas de ausência ou, para quem perdeu pessoas na pandemia, as sombras do luto. Esquecemos boa parte da profundidade das coisas ruins para seguir em frente. Agora, de novo, a saúde pública volta a gerar um eco distante daquelas entrevistas desanimadoras de especialistas que, lá em 2020, nos contavam do horror que inevitavelmente viria. As vozes de Átila Iamarino, Natália Pasternak e Miguel Nicolelis, entre outros, ainda ecoam. 

Agora, em 2024, com o Carnaval já no play pleno, voltamos a ouvir reiteradamente expressões como emergência pública, calamidade, falta de vacinas, hospitais de campanha, etc. Um velho conhecido, o mosquito da dengue, paira sobre o país. Alguns estados já têm casos em volume impossível de ser atendido na rede hospitalar. Há uma vacina, a Qdenga, em duas doses, para o combate à doença, mas a única fabricante do mundo, a japonesa Takeda, não tem condição de produção e entrega na quantidade de doses que o Brasil precisa. Mesmo quem tem recursos para comprá-la na rede privada não pode adquiri-la, pois a prioridade da fabricante é atender a demanda do SUS. 

A emergência climática que tem feito elevar os termômetros do Brasil a temperaturas insuportáveis também tem gerado tempestades e volumes de chuvas concentradas em cidades sem sistemas de saneamento para esse combo: calor extremo e água acumulada, o paraíso para a reprodução do mosquito transmissor da dengue. Embora os alvos mais vulneráveis sejam as criança até 14 anos, os adultos que já tiveram a doença não ficam imunes. Há quatro variações da doença, e quem teve um dos tipos pode ter os demais três e com risco de agravamento muito maior nas vezes seguintes. Somente em São Paulo, em apenas um mês já foram 30 mil diagnósticos, 67 do tipo grave da doença e quatro mortes. Dez mil novos casos foram diagnosticados somente numa única semana, na última do mês.

Plantinhas, pets e notícia péssima 

No Brasil, no mesmo período, já são 150 mil casos e 36 mortes. Os estados em pior situação são Minas Gerais e Acre. Ambos já decretaram situação de emergência, assim como o município do Rio de Janeiro e o Distrito Federal. Além disso, há um índice grande de subnotificações, pois muita gente cujos sintomas não levam à prostração física ou que não precisa de atestado para faltar ao trabalho não vai aos centros de saúde buscar atendimento. Como uma tragédia sozinha nunca parece ser suficiente, têm sido comuns casos em que pacientes estão chegando aos hospitais e sendo diagnosticados com COVID + Dengue. 

Nesta terça-feira, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, fez um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. Parecia um filme já visto, aqueles pronunciamentos distantes em que o então ministro Luiz Henrique Mandetta alertava os brasileiros sobre os riscos iminentes da COVID que chegava ao país. O pronunciamento da ministra tinha três pontos: alertar o país sobre os riscos de um surto da doença, pedir aos brasileiros para lutar contra o mosquito, já que a quase totalidade das pessoas é picada em casa, e falar da notícia boa e da péssima, relacionadas ao SUS. A boa: o sistema público de saúde brasileiro é o único do mundo a ofertar a vacina contra a dengue gratuitamente. A péssima: o laboratório fabricante não tem condição de produzir para o Brasil a quantidade mínima doses que o país precisa. 

Enquanto isso, vamos de subsolo do inferno: muito calor, chuvas frequentes, mosquitos e o que nos parece tolo, mas é a única obviedade que podemos fazer: evitar as aguinhas de casa, aquelas das plantinhas ornamentais e dos bebedouros dos pets. E apegar-se místico, para quem tem fé, ao eixo de sua crença particular, para não ser premiado no Carnaval com a dupla: uma picada do aedes aegypti e a inalação do invisível vírus da COVID.