Brasília, 8 de janeiro, um ano depois
A Presidência decidiu transformar o 8 de janeiro em um evento para celebrar a vitória da democracia e das instituições
Foto: Reprodução
A Presidência da República decidiu transformar o horror destrutivo do 8 de janeiro de 2023, quando o governo Lula ainda estava arrumando as salas para os novos ocupantes, em Brasília, em um evento para celebrar a vitória da democracia e das instituições sobre a insanidade da manada que invadiu a Praça dos Três Poderes destruindo tudo. Um ano depois, ainda são dezenas de presos pelos atos, e a ideia de uma solenidade com a presença de todos os ministros e os presidentes de todos os poderes é marcar a importância da resistência à ameaça que os atos representaram, há um ano, à democracia.
Pedir a parlamentares, ministros e ocupantes dos mais altos cargos da República e autoridades dos demais estados para permanecer em Brasília, voltar ou viajar para Brasília na primeira semana de janeiro é exigir sacrifícios. A cidade, em janeiro, exceto nos anos em que há posse presidencial, é um deserto de poderosos. Todo mundo viaja para seu respectivo estado ou para férias no exterior. Diante da convocação de Lula para que autoridades estivessem no Distrito Federal no próximo 8 de janeiro, houve um engolir em seco quase unânime. Todo mundo já estava com férias planejadas, passagem comprada e família arrumando as malas.
Até aqui apenas o governador do DF, Ibaneis Rocha, que por um triz não perdeu o cargo por conta da omissão no quebra-quebra do ano passado, anunciou que manterá as férias como estavam. Estará em Miami, nos Estados Unidos. Em um ano, muita gente caiu em desgraça por conta dos atos, e Miami e Orlando aparecem no roteiro dos atos golpistas como o destino do bolsonarismo que cruzou o Atlântico e viu o vandalismo de camarote na Flórida. Foi exatamente por estar na rota Miami-Orlando e dar de ombros a Brasília, há um ano, que o então secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, quase derrubou Ibaneis e acabou preso.
Aves mortas
Ex-ministro da Justiça e ex-delegado da Policia Federal, Anderson Torres nunca mais se livrou de ambas, agora como alvo. E nunca mais saiu das manchetes. Agora, na semana do Natal, circulou a informação de que 16 das cerca de 60 aves apreendidas pelo Ibama este ano em sua casa, em Brasília, morreram debilitadas. Ao que parece, o 8 de janeiro do ano passado ainda assombra o próximo. A organização da cerimônia é cercada de segredos, com reforço da segurança em áreas de concentração de prédios públicos, supostamente por haver temor de que não apenas o Governo Lula queira transformar a data em um marco.
Ninguém descarta a ideia de que a viuvez do fanatismo visto no ano passado possa estar respirando delírios de promover qualquer coisa invertida, numa demonstração de que o saudosismo militaresco continua vivo e capaz de produzir violência como celebração. Mais de 100 pessoas continuam presas por conta do que fizeram nos atos de janeiro de 2023 e as redes estão aí todos os dias como mural provando o quanto gente importante e com mandato considera isso injusto, sentimento que foi reatualizando recentemente pelo fato de um dos presos ter morrido no presídio da Papuda ao sofrer um mal súbito, aos 46 anos.
Embora pareça não haver clima para revanchismo, baderna ou violência em Brasília no contexto atual, nunca se sabe. Embora houvesse milhares de pessoas acampadas na cidade há um ano, após o resultado das eleições e a posse de Lula, quem diria, 24 horas antes, que seriam possíveis as cenas que o mundo assistiu, com pessoas de todas as cidades quebrando palácios, móveis e esfaqueando obras de arte? Como a polarização do país continua no mesmíssimo patamar, melhor adotar precaução. Quer comemorar, comemora, mas deixa a polícia pronta, não para colaborar com os invasores, como se viu, mas para impedi-los.
📲 Clique aqui para fazer parte do novo canal da Metropole no WhatsApp.