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Domingo, 30 de junho de 2024

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República, devolva os nomes de minhas ruas

República, devolva os nomes de minhas ruas

Acho que o Hino da República está de brincadeira ao declarar, ainda no início de 1890: “Nós nem cremos que escravos outrora / Tenha havido em tão nobre País…

República, devolva os nomes de minhas ruas

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 16 de novembro de 2023 às 00:00

Aprendi na escola que quem proclamou a República foi o Marechal Deodoro da Fonseca (perna fina e bunda seca), em 15 de novembro de 1889. Sem maiores explicações, me disseram que tinha sido uma coisa boa e que a prova era o feriado que a gente poderia curtir sem ter que ir para a escola. Enfim, sem desejar o retorno da Monarquia, mais tarde descobri por conta própria algumas mazelas envolvendo a proclamação e o resto de nossa República Federativa do Brasil. A começar que o tal marechal era, na verdade, um monarquista, que o processo todo foi um golpe militar que passou ao largo do povo, e que a verdadeira motivação de Deodoro era uma rixa regional envolvendo disputa juvenil por mulher.

Fiquei achando também que o Hino da Proclamação da República só podia estar de brincadeira ao declarar, ainda no início de 1890: “Nós nem cremos que escravos outrora / Tenha havido em tão nobre País…”. Ora, se ainda hoje é possível sentir a sombra, as mãos macabras da escravidão no Brasil, imagine como era quando José Joaquim de Campos da Costa de Medeiros escreveu orgulhosa e mentirosa letra!

Outra coisa, só pra quase terminar a lista: o golpe militar da república previa que se fizesse um plebiscito para o povo escolher se queria mesmo aquele regime de governo. Pois o plebiscito aconteceu. Só que em 1993! Com direito até a horário eleitoral gratuito na televisão que não tinha sido sequer inventada quando o Marechal Deodoro da Fonseca fez seu gesto triunfal. Isto é, nossa república foi provisória por mais de 100 anos!

O que não aprendi na escola foram os seguintes versos de Manuel Bandeira: “Rua da União… / Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância / Rua do Sol / (Tenho medo que hoje se chame do Dr. Fulano de Tal)”. Pois bem, esses dias estive em Belém pela primeira vez. Lá, como mostra Bandeira em outro poema, a manjada Avenida Marechal Deodoro da Fonseca de todas as cidades se chama Avenida do Generalíssimo Deodoro. E reparei que as ruas ao redor todas têm nomes de vultos republicanos: Nabuco, Bocaiuva, etc.

São sujeitos por quem tenho admiração. Uns mais, outros menos. Mas, desde então estou cismado de que essa mania de batizar nome de rua com peruagem a político, com nome do doutor fulano de tal, que este gesto geralmente nada republicano, começou justamente com a galera da implantação da república. Sei não, mas às vezes sinto vontade de mandar fechar essa joça, indenizar os indígenas e declarar falência.