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Salcity e o casaco do Papa 

Salcity e o casaco do Papa 

De repente todas as conversas passaram a ser sobre os avanços, os impactos e os efeitos colaterais da IA na vida de todo mundo, principalmente no universo do emprego e do trabalho

Salcity e o casaco do Papa 

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 30 de março de 2023 às 08:44

Quem não se viu diante de um texto, de uma imagem ou de uma discussão sobre inteligência artificial durante os últimos 30 dias, provavelmente estava em coma. De repente todas as conversas passaram a ser sobre os avanços, os impactos e os efeitos colaterais da IA na vida de todo mundo, principalmente no universo do emprego e do trabalho. Ninguém sabe direito ao que equivale cada consoante da sigla, que já virou coisa, mas todo mundo minimamente inserido no mundo digital sabe o que é o chatGPT. E já tem gente traçando os piores prognósticos, no tom distópico-alarmista do “milhões de pessoas vão perder seus empregos no mundo e seremos substituídos por máquinas mais inteligentes do que nós”.

Para dar um sentido mais concreto à tese de que a IA é capaz de nos convencer de qualquer coisa, de produzir textos, imagens, vídeos absolutamente credíveis, emergiu nas redes imagens do ex-presidente Donald Trump (EUA) sendo preso na rua, sob várias perspectivas e ângulos, e imagens do Papa Francisco usando uma peça ultrafashion: um estiloso casaco branco, do tipo puffer, aquele dos gominhos alcochoados, semelhante a um modelo de uma das grifes mais caras da Europa. Nos dois casos, houve muita gente que imediatamente tomou as imagens como reais. 

No caso do papa, uma das revistas de moda mais respeitadas do Brasil, a Vogue, fez post em sua página de rede social comentando a peça estilosa usada por Francisco, um comentário bem na linha ‘o papa é pop’. No caso de Trump, a confusão entre real e fake foi menor, uma vez que é imediatamente comprovável com fontes oficiais e nos veículos de imprensa se Trump havia sido preso ou não. O guarda-roupa de Francisco é tema menos aferível imediatamente por um usuário de rede. O fato é que as duas imagens foram a representação da semana do desafio que se tem pela frente para distinguir do que é uma imagem real, no sentido factual, ou uma imagem criada pela inteligência artificial, como era as do papa no casacão branco e Trump arrastado por policiais. 

Salvador num gamecard

Ainda com o chatGPT ocupando espaço em tudo o quanto é plataforma e suscitando debates sobre emprego, autoria, direito autoral e remuneração, educação, extermínio de profissões, inclusive a de jornalista, e sobre impacto da IA no universo das artes, o Google lançou o seu produto equivalente, o Bard, para competir e disputar mercado. Isso significa, no mínimo, que levaremos dias submetidos a um corolário de debates e análises comparando os dois produtos, suas funcionalidades, vantagens e desvantagens e o melhor custo-benefício. Certeza, só uma: a tecnologia não retrocede. Aos mais pessimistas e distópicos, resta o desafio de identificar que usos e apropriações faremos da IA nos próximos anos. Desaparecer, ela não vai. Nem a humanidade, por causa dela. Por enquanto. 

E na convergência entre IA, arte, produção de conteúdo digital e criatividade para torná-la uma aliada e não uma puxadora de tapete, o projeto #salcity é um case admirável. Ao adotar Salvador como uma espécie de reino mitológico e adaptar o denso caldo cultural, social, antropológico e geográfico, os criadores da página @filmeiro, no Instagram, são uma etnografia digital que diariamente traduz a cidade de Salvador em seus 474 anos, comemorados nesta terça, 29 de março. Todos os cards que ilustram cenários, personas e elementos da Salvador histórica e contemporâneas são produzidas em plataformas de inteligência artificial. Para quem acha que basta mandar que o robô faz, o teste é livre. Peguem uma carta do game disponível na página do @filmeiro, escolham palavras de comando e vejam o que a máquina entrega de volta. Boa sorte. E feliz aniversário, Salcity.