Da proibição dos trios no Bonfim ao caso Santo Antônio Além do Carmo
A cada verão no Santo Antônio Além do Carmo, crescem a frequência de pessoas (baianos e turistas) e o tamanho das festas e dos “bloquinhos” que já são, em alguns casos, verdadeiros blocões
Foto: Reprodução
Lavagem do Bonfim sempre cai numa quinta-feira, não é feriado, mas, mesmo assim, continua sendo uma das festas populares mais cheias da cidade. O evento, consagrado em músicas de Walmir Lima, Gilberto Gil e outros, já foi considerado um pré-carnaval de Salvador, inclusive pela presença dos trios elétricos no cortejo. Desde 1998, porém, os trios foram proibidos de invadir a celebração, e estou lembrando aquele período e essa medida para demonstrar que, às vezes, ter coragem de voltar atrás nos ajuda a seguir em frente. Moro no Santo Antônio Além do Carmo, o bairro do momento. A cada verão, crescem ali a frequência de pessoas (baianos e turistas) e o tamanho das festas e dos "bloquinhos" que já são, em alguns casos, verdadeiros blocões. Claro que há sempre alguém para repetir a máxima: "Agora já foi, ninguém freia mais". Mas, repito, a Festa do Bonfim está aí para servir de exemplo.
O carisma da devoção atraiu para o dia da lavagem uma série de pessoas e empresários que, na verdade, não queriam ter relação com ela. Apenas pongar em seu "hype". Daí, começaram a aparecer trios elétricos e até camarotes no bairro do Comércio, desviando o curso, o intuito, o sentido e a essência da festa. O miserê durou décadas, até que o prefeito Imbassahy teve coragem de vetar a presença dos equipamentos que, entre outras coisas, causavam muita briga e empurra-empurra. E, o mais interessante, passados mais de 25 anos, hoje praticamente todo mundo aprova a ausência dos trios no Bonfim.
Pois bem, em Santo Antônio a questão é mais complexa. De repente, não mais que de repente, o bairro viu seu pôr-do-sol milenar ser descoberto pelo Instagram. Grande parte dos imóveis, até então residenciais, foram transformados em bares, restaurantes, ateliês, lojinhas, cafés... da noite para o dia. Tudo beleza. Com isso, os moradores resistentes estão tendo que se acostumar a barulho e mijo na porta, entre outras bagaceiras. O que significa apenas uma coisa: é preciso ordenar. Sem medo de, em algumas situações, vetar.
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