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Um dia de fúria

Um dia de fúria

O que seria apenas um domingo chuvoso em Brasília inscreveu-se como um dos dias mais estarrecedores da crônica política brasileira.

Um dia de fúria

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 12 de janeiro de 2023 às 11:25

Oito de janeiro de 2023. Uma semana após a posse de Lula para o seu terceiro mandato como presidente da República. Dois anos e dois dias após um exército de anônimos apoiadores de Donald Trump invadir o prédio do Capitólio, o congresso dos Estados Unidos, deixando quatro mortos e cerca de 50 presos. Dez anos após os emblemáticos protestos de 2013 no Brasil, sobre os quais muito já se escreveu mas até hoje permanece um gap entre os atos, suas reais motivações e os precipícios ali abertos. 

O que seria apenas um domingo chuvoso em Brasília acabou arrebentando pelo fundo a porta da história e inscreveu-se como um dos dias mais estarrecedores da crônica política brasileira. Os desdobramentos da insurreição golpista estão apenas começando a ser narrados. Nas 48 horas depois das cenas de terror, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi afastado do cargo, as prisões ultrapassaram as 1.500, a justiça pediu a prisão do secretário exonerado de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, e o inventário dos prejuízos causados pelo terrorismo doméstico bolsonarista atingia uma ordem de tal grandeza que ninguém era capaz de apresentar um cálculo que se aproximasse do custo real da reconstrução.

Sangue e vidro

Por anuência, conivência, omissão, incompetência ou propósito claro as coisas foram, sim, piores aqui. Não houve mortos nos atos, é verdade, mas isso só não aconteceu porque aqui a Polícia não fez absolutamente nada para reprimir os manifestantes, diferentemente do que aconteceu nos Estados Unidos. E não são poucas as vozes que garantem: a polícia do Distrito Federal não conteve os invasores, não disparou um tiro nem dispararia, não por tática, mas por questões pessoais: famílias de militares, de policiais e de agentes das Forças Armadas estavam nos acampamentos e marcharam escoltadas pela Polícia, até a invasão dos três poderes. A polícia era não só conivente como não atiraria, pois sabia que os alvos seriam seus parentes. 

A Polícia do Distrito Federal é a mais bem paga do país. Somente para este ano, tem um orçamento de R$ 10 bilhões, integralmente repassados pela União, pois à Polícia Distrital cabe garantir a ordem e a segurança da capital federal, por abrigar os três poderes. Muito ainda ainda se saberá sobre o domingo de terror que deixou rastros de destruição, álcool, urina e sangue nas instalações do Palácio do Planalto, no Congresso Nacional e no Supremo. O sangue dos machucados pelos vidros estilhaçados, as digitais e, principalmente, os dados de geolocalização dos celulares apreendidos, além das imagens produzidas pelos próprios invasores, identificarão os terroristas e traduzirão ainda mais o oito de janeiro.